O presidente da Câmara do Porto criticou a atuação da Capitania do Douro, da Proteção Civil e da APDL durante os alertas emitidos nos últimos dias devido ao mau tempo, que provocaram de 296 ocorrências na cidade. O comandante da capitania do Douro, Cruz Martins, afirmou que os "avisos tardios" foram feitos numa reunião, 10 horas antes das cheias.
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"Deixar uma nota de preocupação em relação a alguns dos serviços do Estado central, em particular da Capitania, porque os avisos que chegaram foram tardios. Nós não vimos aparecer Polícia Marítima, não vimos aparecer Capitania, a única coisa que vimos foi o capitão do Porto dar uma entrevista às televisões no estúdio, mas essa não é a atuação que nós esperamos e, portanto, pareceu-nos aqui absolutamente desajustada a posição da Polícia Marítima, da Capitania, que tem nesta matéria responsabilidade", afirmou Rui Moreira, esta segunda-feira.
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O autarca, que falava na reunião do executivo, no período antes da ordem do dia, lembrou que o Porto viveu nos últimos dias uma situação preocupante, com muita pluviosidade, cheias e o agravamento da agitação marítima, tendo "sempre" recebido "avisos muito tardios, quer por parte da Capitania, quer por parte da Proteção Civil".
Segundo Moreira, apenas o ministro do Ambiente se "preocupou, de facto", em dar nota do que se estava a passar, sendo que a situação, sublinhou, chegou a ter alguma gravidade.
"Queria também dizer que, no caso da APDL [Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo], também ela muitas vezes preocupada com o seu domínio, esteve mais ou menos desaparecida. Nós tivemos de intervir na Marina do Freixo para retirar um conjunto de troncos e objetos flutuantes que ali estavam a causar graves perturbações e graves danos às embarcações, e isso foi feito pelos serviços da câmara", observou, louvando o trabalho das equipas municipais, a que se associou o vereador do Partido Socialista Manuel Pizarro.
Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo esteve mais ou menos desaparecida
Já o vice-presidente da Câmara, Filipe Araújo, salientou que a capacidade operacional do município é fruto dos investimentos que têm vindo a ser feitos, nomadamente no CGI - Centro de Gestão Integrada.
O comandante da capitania do Douro, Cruz Martins, disse ao JN "estranhar as declarações do Presidente da Câmara". "Não me parece que avisos feitos numa reunião que se realizou dez horas antes das inundações, para a qual foi convocado o representante da Proteção Civil Municipal do Porto (Rui Moreira), sejam tardios", afirmou o comandante.
Além disso, acrescenta, "não só expliquei que era previsível que houvesse inundações, como também declaramos o alerta vermelho". Quanto ao facto de Rui Moreira afirmar que não viu aparecer a Capitania, Cruz Martins insistiu que até ele "ficou farto de se ver na televisão" porque deu entrevistas em vários locais da cidade.
Numa nota publicada na sua página oficial, o município refere que se registaram, desde quarta-feira, um total de 296 ocorrências.
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Na sexta-feira, devido às condições meteorológicas provocadas pela depressão Elsa, o rio Douro galgou as margens tendo no pico da maré subido 1,20 metros e entrado quase 30 metros pela Praça da Ribeira, no Porto, o mesmo sucedendo do lado de Vila Nova de Gaia.
As águas entraram em casas e estabelecimentos comerciais nas duas margens, tendo a situação melhorado no sábado com a redução das descargas das barragens e a melhoria das condições atmosféricas.
Os efeitos do mau tempo, que se fazem sentir desde quarta-feira, provocaram dois mortos e um desaparecido e deixaram 144 pessoas desalojadas e outras 352 deslocadas por precaução, registando-se mais de 11.600 ocorrências, na maioria inundações e quedas de árvores.
O mau tempo, provocado pela depressão Elsa, entre quarta e sexta-feira, a que se juntou no sábado a depressão Fabien, provocou também condicionamentos na circulação rodoviária e ferroviária, bem como danos na rede elétrica, afetando a distribuição de energia a milhares de pessoas, em especial na região Centro.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil, num balanço feito hoje às 10:00, disse que o distrito de Coimbra é aquele que ainda causa maior preocupação, apesar de o número de ocorrências ter "baixado significativamente", esperando-se a redução do leito do rio Mondego nos próximos dias.