Rui Rio: "Não conseguiria falar da destruição da Avenida da Boavista sem dizer palavrões"
O ex-presidente da Câmara do Porto e ex-líder do PSD, Rui Rio, marcou presença neste sábado de manhã num debate sobre a cidade, promovido pelo movimento cívico de António Araújo, "Porto com Porto". Entre os problemas a resolver, só não falou do metrobus na Boavista. "Não conseguiria sem dizer palavrões", justificou.
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Fez-se um diagnóstico da cidade, enumeraram-se os problemas e tentou encontrar-se soluções para cada um. A manhã deste sábado foi de longo debate no auditório da secção regional do norte da Ordem dos Médicos, no Porto. Entre segurança, criminalidade e combate à toxicodependência, discutiram-se também soluções de mobilidade e de regeneração urbana da cidade. Divididos em dois painéis, os temas foram debatidos por seis personalidades com conhecimento nestas áreas. O ex-presidente da Câmara do Porto e ex-líder do PSD, Rui Rio, fechou a sessão promovida pelo movimento cívico e independente "Porto com Porto", do médico António Araújo. O social-democrata recusou-se a falar de um só tema: a obra de construção do metrobus na Avenida da Boavista. Isto porque não conseguiria abordar "a destruição" daquela artéria "sem dizer um palavrão".
Entre os convidados do primeiro painel para debater a segurança e a mobilidade na cidade, esteve presente o ex-ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, que citou os números do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) para comprovar que a criminalidade tem diminuído no Porto. Por outro lado, Jorge Quintas, professor na Escola de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, notou que "uma coisa é o que acontece em matéria de atividade criminal e outra coisa é o que as pessoas sentem".
"As estatísticas dizem que há diminuição da criminalidade, mas há um aumento da criminalidade violenta", afirmou Hugo Moreira, da PSP. Ao mesmo tempo, acrescentou que a cibercriminalidade tem crescido principalmente relacionada com o arrendamento. Há grupos, explicou, "que se dedicam ao cibercrime de forma continuada", reunindo fotografias do exterior e interior dos imóveis e publicando anúncios de arrendamento na internet. "Quando as pessoas chegam à casa, ela não existe ou é de outra pessoa. Este tipo de crime tem prevalecido muito no Porto sobretudo em áreas com muitos estudantes", especificou.
Hugo Moreira referiu também o fenómeno do tráfico de droga, que assola alguns bairros municipais. "Muitas pessoas recebem ameaças de morte e são obrigadas a guardar os estupefacientes dentro das suas casas", relatou.
Tanto o representante da PSP como Jorge Quintas defenderam, por isso, uma maior reabilitação do espaço público dos bairros sociais.
À margem da sessão, José Luís Carneiro foi questionado sobre a sua disponibilidade ou eventual interesse em assumir a liderança da Câmara do Porto, mas o socialista disse que, nesta altura, o mais importante é "avaliar propostas e ideias e discuti-las com os cidadãos". Durante a sessão não foi possível, contudo, passar a palavra à população porque o debate prolongou-se mais do que o previsto.
Também António Araújo não fez comentários quando questionado sobre uma eventual candidatura à Câmara do Porto para as autárquicas do próximo ano.
"Porque é que o Porto tem de ter duas estações de alta velocidade?"
A mobilidade e a regeneração urbana foram os temas debatidos no segundo painel, constituído por Bento Aires, presidente da Ordem dos Engenheiros da região Norte, Paula Teles, especialista em mobilidade e presidente e fundadora do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade, e José da Silva Peneda, ex-ministro do Emprego e da Segurança Social do Governo de Cavaco Silva.
Para Paula Teles, não restam dúvidas de que a população continua a andar de carro "porque não há alternativa". "Não temos uma solução de transporte bem resolvida. Não temos oferta com dignidade, frequência, nada. Não adianta fazer novas pontes. É o mesmo que o metrobus [entre a Casa da Música e a Praça do Império]. É um erro ridículo", considerou, pedindo também a transformação da VCI numa avenida verde.
"O problema da VCI não são os camiões, são os carros. E acho que Porto perde também uma grande oportunidade de condicionar a Baixa de uma vez [a propósito das obras de construção da Linha Rosa do metro]. Assim, tiravam-se os carros da VCI também", atirou Bento Aires. E prosseguiu: "A cidade não está a ser pensada há muito tempo. Não há discussão, não há maturidade. As pessoas não sabem o que se está a passar. Porque é que o Porto tem de ser duas estações de alta velocidade quando o comboio passa em Gaia e, em dois ou três quilómetros, está no Porto?".
Já Silva Peneda pediu maior "coordenação de políticas e atividades", sublinhando a importância de existir uma "articulação entre os vários atores do privado e do público, do poder central e local".
A debater o Porto "sem qualquer amarra"
Notando a "dificuldade enorme" dos partidos em "abrir-se à sociedade e debater", o ex-líder do PSD e ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, considerou "fundamental que os partidos se reformem". Contudo, admitiu ter "a impressão de que é mais fácil aparecerem novos partidos do que pedir àqueles que são institucionais que se reformem e sejam capazes de se libertar das amarras internas e abrirem-se à sociedade".
Por isso, quis "aplaudir" o aparecimento do movimento "Porto com Porto", que debateu a cidade "sem qualquer amarra a não ser o pensamento ou o conhecimento de cada um".
Fez depois uma análise entre o estado da cidade em 2001 e o cenário atual: não há problemas financeiros, "os bairros sociais e as escolas estão num patamar de manutenção" e a reabilitação urbana também continua em marcha. Mesmo o turismo, o problema não é a falta dele, mas "o excesso também pode ser um". Dos quatro temas considerados fundamentais pelo ex-autarca (mobilidade, segurança, combate à toxicodependência e manutenção do espaço público), o trânsito e o mau estacionamento são os mais importantes. Pediu por isso, uma maior ação da Polícia Municipal.
"Não vou falar da destruição da Avenida da Boavista porque a vida já me ensinou que precisamos de algum tempo para pensar. Não conseguiria sem dizer palavrões", admitiu.