"Sou Matriz até morrer", atira, convicta, Flávia Silva. Este ano, ainda de luto pela mãe, não pode ir na claque, mas nem assim torceu menos pela rusga da "sua" Matriz. Belém, Mariadeira, Norte, Sul e Regufe completam os seis bairros que são a alma das festas de S. Pedro, na Póvoa de Varzim. O resto é a festa popular de rua: sardinhas assadas e vinho oferecidos a quem passa, fogueiras e as rusgas dos seis bairros a desfilar pela cidade. O S. Pedro voltou, na terça-feira, e cumprindo a tradição, trouxe milhares à Póvoa de Varzim.
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"Vi muitas lágrimas na saída da rusga. É uma emoção muito grande!", contou Sérgio Postiga, da Juvenorte, a associação responsável pelas festas no bairro Norte. As tricanas - rico avental da cor do bairro, blusa de renda branca, saia travada preta, chinela no pé e puxo na cabeça - desfilam, abanando a anca. De braço dado, os rapazes seguem segurando o arco. Cantam a plenos pulmões. Atrás, a claque e quantos mais melhor.
"É a cidade inteira em festa. É uma folia tremenda", continua Sérgio Postiga, que, ao início da noite, já encontrou a rua António Graça (o "palco" das festas a Norte) "quase intransitável". Comem-se sardinhas, espera-se pelas rusgas, festeja-se com amigos e vizinhos, canta-se e dança-se.
"Foram dois anos sem S. Pedro. Estávamos todos ansiosos. Finalmente estamos na rua com arcos novos, muita folia, muita festa... Tudo o que aquilo que o S. Pedro tem direito", atirava o presidente do Grupo Recreativo de Regufe, Sérgio Ferraz, enquanto esperava para ver dançar a sua rusga no palco da Praça do Almada.
No ano em que se comemoram seis décadas das festas de S. Pedro na Póvoa de Varzim e depois de um interregno de dois anos, os bairros apostaram forte. "Quem ganha é a Póvoa", remata, sorrindo, Sérgio Ferraz, satisfeito com o regresso "muito esperado".
Sexta-feira é dia da segunda noitada. Já não há rusgas pela cidade e a festa faz-se em cada bairro. Há seis arraiais à escolha, volta a sardinha assada, as rusgas atuam "em casa" e há bailaricos até ao nascer do dia.
Flávia dançou na rusga em solteira. Hoje, 50 anos depois, continua a vibrar com a Matriz: "Isto está nos no sangue! Não tem explicação. É muito bairrismo e é isso que é bonito no nosso S. Pedro".