“É diferente. É muito giro! No Porto, a única coisa que fazemos é andar de um lado para o outro e bater com os martelinhos. Aqui, há marchas e carrosséis. É uma festa diferente”, atira Ana Aguiar, que, este ano, pela primeira vez, deixou o S. João no Porto para rumar, com a família, a Vila do Conde. Não se arrependeu.
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Com o S. Pedro a dar uma ajuda ao santo vizinho, a noite foi “quase de verão” e, em véspera de fim-de-semana, a cidade encheu-se de gente, como há muito já não se via.
“São as festas mais genuínas do país. Esta rivalidade entre os dois ranchos é única. Renova-se ano após ano e é um sinal da vitalidade do nosso povo”, explicou, ao JN, Artur Bonfim, o presidente do Rancho da Praça, um dos dois que, a abrir a noite mais longa do ano, desfilou pela avenida nas tradicionais marchas luminosas.
Cada rancho trabalha quase um ano inteiro para, nesta noite, levar para a rua as melhores marchas, os componentes mais bem trajados, os arcos mais vistosos, as coreografias mais belas, os carros alegóricos com réplicas de monumentos da terra mais espetaculares.
“São sempre muito boas e, de ano para ano, melhoram sempre. Um e outro rancho esmeram-se muito”, conta Maria Nascimento, que, residente na freguesia de Árvore, todos os anos, junta a família para vir até à sede do concelho e assistir às marchas de S. João.
“Estou orgulhoso do trabalho que fizemos: seis carros, seis grupos folclóricos, dois trios elétricos, alegria, arte balões e muita dança”, explica Carlos Pontes, o presidente do Rancho do Monte, que, apesar da experiência de décadas nas marchas, não esconde o nervoso miudinho que sente sempre “na hora de arrancar”.
Findas as marchas luminosas, que, no Monte e na Praça, levavam mais de 200 componentes dos 2 aos 80 anos, cada um dos dois ranchos dançou “em casa”: a Praça na praça de S. João, o Monte no monte do Mosteiro.
“Agora, damos uma volta, levamos a filha aos carrosséis e vamos para a beira-rio ver o fogo”, explica Ana Aguiar, que pretendia ainda dar uma volta pela zona histórica da cidade para “sentir a festa” e “ver as cascatas”. Para trás, ficou um jantar de sardinhas e, em terra de pescador, “estavam bem boas”.
Artur Bonfim diz que, este ano, viu a cidade “cheia como nunca”: “Muitos, muitos milhares, o que mostra que o S. João de Vila do Conde já é reconhecido, não só no concelho, mas no país inteiro”.
Na hora do fogo-de-artifício, o difícil foi encontrar um lugar vago à beira-rio. Meia hora de espetáculo com música à mistura no estuário do rio Ave. Depois, para quem ainda teve forças, a noite seguiu madrugada dentro com o concerto de Ana Malhoa.
Hoje, os ranchos voltam a sair à rua para a “ida à praia”. Desta vez não há trajes ricos, nem arcos e balões de S. João. É juntar os adeptos e descer a avenida, a cantar e a dançar. Praça e Monte voltam a competir pelo rancho que consegue arrastar mais gente e a rivalidade entre os dois, dizem, é a verdadeira alma da festa.