
Há muitos dias que já é S. João nas Fontainhas. É a festa genuína no Porto. Com manjericos e martelos. Com farturas e sardinhas. Com carrosséis e matraquilhos. Hoje é o dia grande. Ou melhor, a noite grande. A mais longa do ano, com milhares de pessoas na rua.
"Dança-se no meio da rua e tenta-se animar a noite. Não podemos deixar morrer a tradição", sentencia Alberto Pinto, de 73 anos. Embora com menos gente do que nos tempos de antigamente, as Fontainhas continuam a encarnar o espírito sanjoanino. "Há alguns anos era uma enchente e ninguém podia andar aqui. Agora, as pessoas vêm cá só dar um passeio e vão-se logo embora. É preciso mais entusiasmo", acrescentou.
"É um dos bairros mais típicos da festa do S. João e a Câmara, em vez de cativar as pessoas, parece que ainda as afasta mais", lamentou Júlio Freitas. "Já são poucos os feirantes que vêm para aqui fazer negócio. A cada ano que passa as taxas sobem mais", juntou.
Desabafos à parte, na mesa de S. João não podem faltar as sardinhas. Joaquina Queirós, do "Restaurante Lavrador", vende cada peixe assado a um euro. Por cada acompanhamento (meia travessa de batata cozida ou salada de pepinos) é preciso desembolsar dois euros. "O negócio está difícil, mas esperamos que melhore hoje à noite", confessou a comerciante.
Para sobremesa, é sempre possível adoçar a boca com uma fartura, por exemplo, na rulote da "Família Armando". "Casei com um fartureiro há 35 anos e desde então que estou aqui. São as melhores farturas das Fontainhas", assegurou a vendedora.
Nas Fontainhas há bailarico assegurado. Em quase todas as freguesias do Porto há bailarico assegurado. Em Miragaia, Centro Histórico, o palco está montado há muito tempo. O aquecimento para a noitada de hoje tem animado o largo defronte das arcadas.
"É um sítio sossegado para se passar a noite de S. João. Estou aqui todos os anos e nunca houve problemas. As pessoas só querem é dançar na rua", sublinhou Fernanda Martins, de 50 anos, comerciante do Café Mara. O estabelecimento fica mesmo por trás do palco e é um dos locais de romaria para os foliões mais sequiosos.
"Vamos ter sardinhas e carne até à meia-noite. Depois, só bebidas, bolos e bifanas", assegurou Cristiana Santos, do café A Taberna. A despensa já está cheia com a matéria-prima para matar a fome e a sede durante a festa.
O espaço contíguo ao Estádio do Dragão já entrou na rotina dos festejos. Abundam os carrosséis: carrinhos de choque, aviõezinhos, o canguru... E também estão lá as farturas, as pipocas e os doces regionais do Norte. "É uma zona que se vende bem por estar mesmo em frente ao Dolce Vita. Estou cá há cinco anos, desde que começaram a festejar aqui o S. João", contou Olinda Ferreira, 55 anos, vendedora de bolos regionais.
