As rusgas e a rivalidade entre os seis bairros tornam o S. Pedro da Póvoa de Varzim uma festa única. Há sardinha oferecida a quem passa e festa por toda a cidade.
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“Já não há coração que aguente!”, diz Iolanda Castro, sem esconder a emoção. Tem 28 anos. Soma 19 anos a desfilar pela rusga do Norte, um dos seis bairros que, na Póvoa de Varzim, são os grandes obreiros das festas de S. Pedro. Sábado é “a grande noite”. Levaram quase um ano a prepará-la. O santo pescador é “o orgulho da cidade”: há rusgas, claques, tronos, sardinhas, fogueiras, muita folia e milhares nas ruas. O bairrismo alimenta a festa e essa rivalidade garante a qualidade, num “amor único” passado de geração em geração. A festa só termina a 6 de julho.
No outro extremo da cidade, em casa do eterno rival Sul, Ana Marafona já tem tudo pronto, mas nem assim o nervosismo a larga. Desde setembro que, em casa, ao serão, avental e blusa vão ganhando forma. São feitos à mão, cravejados de pedras e brilhantes, cosidos um a um, num trabalho de paciência que, todos os anos, custa a cada tricana milhares de euros. De um ano para o outro, a roupa nunca se repete e, no final, é religiosamente guardada como se de peça de museu se tratasse.
São elas as rainhas da festa. As marchas populares de S. Pedro são as rusgas. Na noitada, seguem a desfilar pelas ruas da cidade. Elas de blusas rendadas e avental com as cores do bairro – “quanto mais ricamente decorado, melhor” - e meias de risca preta, os cabelos presos num puxo, travessão, brincos e colar a condizer. Marcham orgulhosas, a cantar e a dançar, cabeça levantada, sorriso no rosto. Ao lado, os rapazes com os arcos luminosos na mão. Atrás, uma multidão de adeptos, camisolas e cachecóis das cores do bairro, a torcer pela sua rusga.
Uma festa em cada bairro
Em cada um dos seis bairros da cidade – Norte, Sul, Matriz, Belém, Mariadeira e Regufe -, há uma festa: um trono ao santo pescador, fogueiras nas ruas, a mesa à porta, sardinhas e vinho tinto oferecidos a quem passa. A noite é passada, de bairro em bairro, a comer sardinhas, a cantar e a dançar, a ver as rusgas. Este ano, com a noitada a calhar a um sábado, espera-se “casa super-cheia”.
“É o ponto alto das festas! É uma honra poder ir na rusga do Bairro Norte”, diz Iolanda. Os pais dançaram na rusga, os tios também. No sábado, é ela quem dá continuidade à tradição e o “bichinho” é cada vez maior, mesmo que, muitas vezes, conciliar o trabalho como advogada com os ensaios e atuações “não seja fácil”.
Ana Marafona recorda aquele momento em que a rusga sai da sede e se apresenta à multidão: “Esperamos o ano inteiro por este dia. É uma emoção!”. Depois, são horas a desfilar – “até às três horas” -, muitos quilómetros nos pés, mas ninguém se queixa.
Depois do desfile na noitada, a ida ao Estádio do Varzim é o segundo ponto alto. “Milhares a ver, a transmissão na televisão… Nada pode falhar”, atira Ana Marafona.
Num sinal de que, por ali, o bairrismo é sadio e a verdadeira alma do S. Pedro, os seis bairros juntam-se na rusga da Póvoa, composta por dois pares de cada bairro, que abre a ida ao Estádio. Ana segue lá e, por isso, este ano, a festa é “ainda mais especial”.
Iolanda atingiu o limite de idade e desfilará, este ano, pela última vez na rusga sénior. O dia ainda não chegou e já sente a saudade apertar-lhe o peito. Deixará de seguir trajada, mas nem por isso deixará de fazer a festa com o “seu” Norte. Porque esse “amor puro” que sente, mas “é difícil por em palavras, jamais morrerá”.
Programa
Rusgas dançam nos três “grandes”
No sábado, a partir das 21.30 horas, as rusgas dos seis bairros – Matriz, Norte, Sul, Belém, Mariadeira e Regufe – desfilam pelas ruas da cidade. Vão visitar os três bairros “grandes” – Norte, Sul e Matriz – e dançam nos três palcos. À meia-noite, há fogo-de-artifício em frente ao mar.
Concerto da Aurea e procissão
No domingo, às 22 horas, há um concerto da Aurea no largo Vasques Calafate, em frente ao Casino. Ainda antes, às 16 horas, sai a procissão do santo pescador.
2.ª noite e Varzim
No dia 4, há uma 2.ª noitada de S. Pedro com cada bairro a fazer a festa em sua “casa”. No dia 5, às 22 horas, as rusgas dançam no Estádio do Varzim e, no dia 6, a partir das 16 horas, o Cortejo de Usos e Costumes, englobando os seis bairros e todas as freguesias do concelho, encerra as festas.
