No ano passado, as duas operadoras recolheram 12 mil artigos. Maioria não reclamada. Entre as peças mais inusitadas estão fraldas, carrinhos de bebé, um chicote e uma bengala.
Corpo do artigo
À primeira vista, não passava de um saco de plástico com maçãs, perdido no metro do Porto. Por entre a fruta, estavam guardados, em notas já amassadas, dois mil euros. Outro saco, com 2200 euros, viajava esquecido num dos autocarros da STCP. Entre os poucos artigos esquecidos e recuperados - até porque, no último ano, perderam-se cerca de doze mil objetos nos dois transportes -, estes fazem parte dos que regressaram aos donos e que menos tempo terão passado nos armazéns de perdidos e achados da Metro e da STCP.
Na sala da estação de metro da Trindade há, por outro lado, itens mais inusitados: "Temos aqui fraldas. É inédito. Há cerca de uma semana também encontrámos um chicote e gel lubrificante. Com fatura e tudo. Ninguém veio buscar", conta Ana Paula Ribeiro, funcionária da Metro há 17 anos e uma das responsáveis pela secção. Entre os artigos mais "comuns", mas ainda assim insólitos, há carrinhos de bebé, bicicletas, lancheiras e até bengalas em madeira trabalhada. Dos seis mil artigos encontrados nas composições de metro no ano passado, 2618 foram reclamados. Na STCP, encontraram-se 5284 artigos e foram entregues 2050.
Guardados por um mês
As duas operadoras guardam as peças durante 30 dias. No caso da STCP, podem manter-se "à disposição até dois meses". "Findo este prazo, os bens são doados a uma instituição sem fins lucrativos". Tratando-se de equipamentos eletrónicos, "são encaminhados para a PSP, e documentos são destruídos".
Também no caso da Metro, todas as peças encontradas ficam guardadas num dos cinco armários da sala da Trindade por 30 dias e seguem, depois, para a PSP. Os passageiros "mais esquecidos" serão os da Linha Amarela, onde também viajam mais pessoas.
Linha "olá metro"
Consciente de que, quando se apercebem do sucedido, muitos dos passageiros pensam que alguém já lhes ficou com a peça, Ana Paula Ribeiro recorda a existência da linha "Olá Metro". Através do 220 409 630, selecionando a opção dos perdidos e achados, os passageiros podem confirmar se o artigo esquecido foi recolhido. Depois, dirigindo-se à porta junto à linha que vai para o aeroporto, no cais 3 da estação da Trindade, um funcionário encarrega-se de entregar o objeto perdido.
Tratando-se de documentos, são enviados todas as terças e quintas-feiras à PSP. Já os passes, seguem diretamente para a loja Andante. No caso das lancheiras, se contiverem algum resíduo no interior considerado perecível, são esvaziadas. A roupa, em caso de mau odor, é deitada ao lixo.
Mas também há lugares mais propícios ao esquecimento do que outros: os oito assentos (quatro de cada lado), no corredor mais curto, entre os "acordeões" que fazem a ligação das composições. "Os passageiros pousam as coisas atrás, no parapeito, e depois esquecem-se", observa Ana Paula, recordando-se de histórias caricatas.
"Esteve aqui um skate um ou dois dias esquecido. Entretanto, um rapaz, com 17 ou 18 anos, ligou e recuperou-o. Mas no dia seguinte já estava aqui o skate outra vez. Nessa altura, até fui eu que telefonei ao rapaz, que já não sabia onde tinha perdido o skate", ri.
Pormenores
Entregues à PSP
"Dos 61% de objetos encontrados e não reclamados [na STCP], 8% foram entregues à guarda da PSP". Deste conjunto fazem parte cartões de cidadão, passaportes, cartões bancários e também telemóveis e computadores.
Motoristas
Tanto no metro como na STCP, quando algum passageiro encontra um artigo perdido, deve entregá-lo ao condutor.
No próprio dia
De acordo com a STCP, "não são raras as vezes em que os clientes, tendo detetado a perda de um objeto no autocarro, ligam para a Linha Azul (226 158 158), permitindo ao agente contactar o motorista respetivo" e recuperar o objeto.