Sem assadores à porta e com menos mesas, os restaurantes de Matosinhos, a "sala de jantar" do Grande Porto, estão muito longe da afluência dos tempos pré-pandemia.
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Um mês após a reabertura, o Mar na Brasa, O Gaveto e a Central do Churrasco registam uma procura entre os 30% e os 40% do normal. Com o negócio adaptado às novas exigências sanitárias, as refeições servem-se, sobretudo, a trabalhadores da zona e a clientes fiéis. Nas salas, a lotação diminuiu e a higienização foi redobrada. As máscaras tapam os sorrisos e escondem a nostalgia das enchentes. Vive-se um dia de cada vez, na esperança de tempos melhores.
Sem certezas quanto ao futuro, no Mar na Brasa, as compras fazem-se com cautela. "Antes, pensava no que é que podia trazer. Agora, penso no que devo trazer", referiu Bruno Pinto, proprietário.
As especialidades da casa são o peixe fresco e o marisco, da lota de Matosinhos. A esplanada está reduzida a quatro mesas de dois lugares. No interior, pela hora do almoço, não se enchem as mesas todas. Antes da pandemia, o cenário seria distinto: "Estaríamos cheios, quase de certeza. E à noite ainda seria um bocadinho melhor".
"Agora, é mais triste. Dá-nos prazer que as pessoas venham almoçar ou jantar em nossa casa e acabem por ficar a conversar. É sinal que se sentem bem e estão confortáveis. Isso não acontece neste momento. As pessoas almoçam e fazem o mínimo que têm a fazer e vão logo embora", disse Bruno.
A esperança para dar fôlego ao negócio reside na época balnear. "O verão traz sempre mais pessoas. Espero bem que a coisa anime um bocadinho", adiantou Bruno Pinto, que ainda não fez contas aos prejuízos. "Ainda não tive essa coragem", justificou.
Quebra de 200 mil euros
No restaurante O Gaveto as contas já foram feitas: a quebra de receitas rondou os 200 mil euros. Ainda assim, não houve despedimentos. "Estamos na altura dos descobrimentos. É um dia de cada vez", frisou João Carlos Silva, gerente. No restaurante, não é permitido almoçar ao balcão. Ao fim de semana, sente-se mais a quebra na procura. "Normalmente, enchia sempre e era só por marcação. A procura não supera a oferta neste momento", garantiu.
À semana, sentam-se à mesa trabalhadores das empresas do concelho. É o caso de Miguel Domingues. "Sinto-me seguro. É um bom restaurante, com um bom ambiente, boa comida e é perto do emprego", afirmou o cliente.
O cenário repete-se na Central do Churrasco. Ao meio-dia, João Grilo ocupa uma das mesas na ampla sala. "É o cliente mais fiel da casa", atirou um funcionário. Frequenta o restaurante há dez anos e, aquando da reabertura, fez logo marcação. "Tem boa comida e bons empregados", confessou João Grilo, 86 anos, residente no concelho. No estabelecimento, o vírus ditou o corte de mais de 90 lugares e, mesmo assim, há cadeiras que permanecem vazias. "Nota-se que as pessoas ainda têm algum receio", referiu Aurélio Borges, sócio gerente.
No restaurante não há reservas de mesas para grandes grupos. Até porque as comunhões e os eventos, como a Queima das Fitas e o Senhor de Matosinhos, foram cancelados. "Isto é um barco muito grande e as despesas correm. Acho que até ao final do ano, isto já não vai mudar", prevê o responsável.