Manutenção do ex-vereador do PS na empresa municipal só foi possível porque autarca do PSD discordou do partido.
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O ex-vereador do Urbanismo na Câmara Municipal de Lisboa (CML), Manuel Salgado, vai continuar a ser presidente do conselho de administração da empresa municipal SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana. A proposta para a reeleição de Salgado foi votada esta quinta-feira e passou com nove votos a favor (oito do PS e um da vereadora do PSD Teresa Leal Coelho) e oito contra (CDS-PP, PCP, BE e do vereador social-democrata João Pedro Costa). A proposta deveria ter sido votada há duas semanas, mas acabou por ser adiada porque não havia maioria suficiente para a aprovar.
A concelhia social-democrata tinha dado indicação para os vereadores do PSD votarem desfavoravelmente. Teresa Leal Coelho recusou-se, porém, a seguir tal recomendação, garantindo assim o voto que os socialistas precisavam para a proposta avançar. O que gerou algum "mau estar" dentro do partido. "Não me revejo no voto da vereadora Teresa Leal Coelho. O PSD não pode ser um substituto do vereador do Bloco de Esquerda", provocou João Pedro Costa que, em conjunto com Teresa Leal Coelho, faz parte da oposição social-democrata na CML. A concelhia anunciou que vai analisar o voto favorável de Teresa Leal Coelho. O JN tentou mas não conseguiu falar com a vereadora.
A ideia de manter Salgado à frente da empresa responsável pela maioria das obras realizadas pela autarquia, depois de este ter abandonado o cargo de vereador em outubro, não agradou à maioria dos partidos.
"Privilegiou negócios"
Em setembro, o BE, que tem um acordo de governação com o PS, apresentou uma proposta alternativa para que a recondução do ex-vereador do Urbanismo não acontecesse. Manuel Grilo, eleito bloquista, lamentou que este documento "nem sequer tenha sido levado a votação". "É inadmissível", criticou. O BE considera que nos 12 anos de funções como vereador, Salgado privilegiou "os negócios e não o serviço público", opinião partilhada por outros partidos da oposição.
"Em vez de uma empresa de reabilitação urbana, a CML fez uma empresa de obras", critica também João Pedro Costa, que em 2017 propôs a criação "de uma empresa pública de reabilitação da cidade", chumbada pelo PS.