Se a história que se segue tivesse acontecido com um gato, poderíamos dizer que tinha gasto uma das sete vidas. Mas como Scott é um cão, Rui Pinto, diretor da Clínica Veterinária Santa Rita, em Ermesinde, Valongo, prefere dizer que o animal "teve uma grande sorte dentro de todo o azar".
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Faz este sábado uma semana que este cão foi encontrado a agonizar, "com um tiro na projeção do coração", num descampado, próximo ao aeródromo de Vilar de Luz, na Maia. Graças a três amigos, pilotos, foi resgatado e, embora se espere uma recuperação lenta, Scott agarrou-se à vida.
"O cão deu entrada na clínica em estado de pré-coma, em hipotermia e com um prognóstico muito fraco", começou por contar o veterinário. Aliás, segundo o clínico, "o animal - com uma série de lesões na pele - só não parecia estar morto porque ainda respirava".
Não foi logo percetível que o cão, de raça indeterminada e sem chip, tivesse levado um tiro. Esse diagnóstico só chegou depois de feito um raio-X, "onde se verificou a presença de um projétil na coluna vertebral", referiu Rui Pinto.
"Nessa altura, senti uma revolta enorme e fiquei chocado a pensar em como alguém tinha sido capaz de praticar tal atrocidade a um animal indefeso", desabafou ao JN Eduardo Ferreira, 32 anos, que juntamente com os amigos Cabaço e Filipe salvaram o cão.
Eduardo - a quem o veterinário apelidou de "herói" - recordou que iam "a caminho do aeródromo de Vilar de Luz" quando se depararam "com esta situação de partir o coração". "Tentamos de imediato arranjar-lhe comida e protegê-lo do frio e da chuva. E, ainda sem saber muito bem o que se tinha passado, decidimos levá-lo o mais rapidamente possível a um veterinário", explicou.
Queixa na Polícia
A "sorte" de que Rui Pinto falava "é que a bala podia ter acertado num grande vaso ou até ter-se alojado num órgão vital, o que poderia resultar na morte do animal". Mas não. Ficou alojada junto à costela lateral, provocando-lhe "uma lesão neurológica". E observando o raio-X, torna-se evidente que "não foi usada uma simples arma de pressão de ar", explicou o veterinário.
Por agora, Scott, assim foi batizado o cão, "é um animal traumatizado, não tendo capacidade motora e sendo incontinente".
Todavia, Rui Pinto acredita "que há motivos para estar otimista". Mesmo que possa demorar entre "um e seis meses até que o cão volte a ser autónomo".
Eduardo e os amigos tudo farão para que Scott "recupere a 100%". De acordo com o veterinário, a extração do projétil não é, por agora, "prioritária". Mas se um dia vier a acontecer, Eduardo garante que apresentará queixa na Polícia.
Ajuda para pagar contas
Para Eduardo Ferreira, que juntamente com os amigos salvou Scott, torna-se "imperioso" tentar arranjar uma família que possa adotar o cão. Eduardo confessou que "adorava" ficar com o animal, mas "não tem condições" para fazê-lo.
Do mesmo modo, precisa de ajuda para conseguir pagar os "custos inerentes ao tratamento e bem-estar" do Scott, nomeadamente o internamento na clínica. Daí que tenha partilhado o NIB: 0035 0284 0000 6559 900 85, em que "todo e qualquer cêntimo depositado será para pagar as despesas do veterinário".