Estão ainda sob vigilância dos bombeiros as matas ardidas pelo fogo que consumiu uma vasta área de floresta entre Castelo de Paiva e Arouca, ao longo de dois dias. As chamas obrigaram à evacuação de alguns moradores de lugares recônditos, isolados nos vales.
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É o regresso possível à normalidade do quotidiano, por entre uma enorme área de terra queimada. O cheiro intenso sufoca, mas os moradores esforçam-se por suportar o ar quase irrespirável. Temem perder os haveres e mantêm-se atentos ao primeiro sinal de reacendimento. "Se as chamas chegassem aqui e nos destruísse a casa, o que seria de nós?", interroga-se Júlio Oliveira, dono de uma das três únicas casas de S. Mamede, um lugarejo escondido no fundo da serra, em Santa Eulália (Arouca).
Por estes lados sabe-se que o fogo surgiu violento e raivoso de sábado para domingo, vindo de Gilde e de Gildinho, freguesias de Real, Castelo de Paiva. As labaredas treparam serras, galgaram vales e abriram várias frentes ao ponto de ninguém saber ao centro como dominar o inferno das chamas. "Nunca vi tal, o lume saltava de um lado para o outro dos montes. Tão depressa ardia aqui e a gente ia acudir, como depois passava para a outra banda", relatou uma mulher que subia a pé a estrada de terra batida entre o cruzamento do alto de Celada e S. Mamede.
"Neste momento a situação está controlada e permanecem várias corporações em missão de vigilância e controlo porque pode haver um reacendimento", disse ao JN o segundo comandante da Autoridade Nacional da Protecção Civil de Aveiro, António Ribeiro. Ao início da tarde estavam mobilizados dois grupos de reforço de bombeiros e a corporação de Castelo de Paiva, na zona de acesso à pequena localidade de Gildinho, violentamente fustigada. Ao todo, cerca de 90 homens foram mobilizados para a vigilância de uma extensa área queimada, sendo ainda visíveis pequenas fogueiras.
À medida que se vai serra cima, ou se desce aos vales mais escondidos, intensas nuvens de fumo ofuscam a visão e apenas pequenos raios de luz, a penetrar por entre esguios eucaliptais esturricados, mostram as primeiras marcas do vendaval de fogo, actuante em várias frentes.
"Parecia um inferno. O lume parecia que voava por cima da casa e ia incendiar mais adiante", recorda Adriano Rocha Freitas, morador em Celada. "A GNR veio aqui ontem à noite [anteontem] com os bombeiros e obrigou-nos a sair de casa. Quando regressámos, por volta da meia-noite, já o monte do meu pai tinha ardido e uma quinta mais no fundo estava também queimada. Felizmente, salvaram-se as abelhas. O lume não afectou as colmeias que temos ali em baixo", contou.
Os vários bombeiros espalhados em locais estratégicos explicaram que o sinistro fez um arco entre as localidades de Gildinho e S. Mamede. "Era uma fogueira gigante com o vento a soprar e o lume e a surgir no topo das árvores", recordou um dos bombeiros.
O autarca de Castelo de Paiva, embora ainda sem números exactos sobre a área ardida, já disse que se trata de um prejuízo enorme, sobretudo, para muitos agricultores. "Há muita gente a viver da comercialização da madeira e portanto este incêndio causou-lhes enorme prejuízo", afirma Paulo Teixeira.
