Restauração aposta na "noite mais longa do ano" para equilibrar a contabilidade. Na lota de Matosinhos são vendidos milhares de quilos de sardinhas.
Corpo do artigo
Sem festejos nas ruas, que vão estar sob forte vigilância policial, o S. João de 2021 será celebrado essencialmente à mesa e os restaurantes apostam forte na noite de hoje para endireitar a contabilidade muito sacrificada pela pandemia. Ontem de manhã, a azáfama era grande na lota de Matosinhos com caixas e caixas de sardinhas a saírem para abastecer lojas, supermercados e restauração de toda a região. Vendiam-se a dez euros o quilo. O preço hoje subirá para os 13 euros.
"Está muito cara, mas vai toda!", diz Cátia Araújo, peixeira e uma das que apregoam mais alto o pescado. "A melhor é a mais pequena, mas é a de Peniche que tem mais saída. As pessoas gostam da grande, mas esta é que é boa porque é da água fria daqui".
A mais pequena estava a nove euros. A de Peniche a 10. Cátia comprou dez caixas na revenda localizada na traseira da lota. Cada uma tem 15 quilos e custam entre 80 e 90 euros. Ao final da manhã foi buscar mais 12.
O movimento é frenético. A poveira Ricardina Braga reconhece que o S. João é o grande dia do consumo de sardinha no Norte. "Há muita sardinha, portuguesa e espanhola", diz. Mas o cliente prefere a nacional, até porque o cabaz da outra sai mais caro: 150 euros.
À espera de enchentes
Nos restaurantes do outro lado da rua preparam-se os assadores. As encomendas estão feitas. Em alguns casos, como no Valentim, as reservas estão esgotadas. No Dom Peixe não há reservas, mas o proprietário Rui Sousa Dias não tem dúvidas que vai encher. Comprou 12 caixas de sardinha.
O antigo jogador do F. C. Porto e do Leixões Jorge Duarte está otimista e encomendou nove cabazes (cada um tem cerca de 200 sardinhas) para o seu restaurante, O Lusitano. Até porque a Rua dos Heróis de França, como descreve Daniela Bulhosa do Xarroco, "é tão concorrida como a Ribeira do Porto", onde Alexandre Osório ultima os preparativos no seu restaurante, o Postigo do Carvão, cujos lugares estão quase todos reservados. Esta noite serão servidos 50 quilos de sardinha. O mesmo acontecerá no vizinho "Mercearia", em pleno Cais da Ribeira. Em Vila do Conde, onde o S. João também é rei, o cenário é idêntico.
"Já não tenho mais lugar! Ainda por cima coincide com o futebol", atira André Bonfim, do Bar da Praça, com 80 lugares na esplanada e 60 no interior. Adelaide Rodrigues tem reservas de pessoas da terra, mas também da Maia e de Famalicão, para "A Rendilheira" e "Alfândega". "Bem melhor do que o ano passado! Pelo menos a sardinha as pessoas não dispensam". Em Braga, os empresários estão pouco animados e há mesmo casas que vão estar fechadas, como a Taberna do Migaitas, que costuma ser um dos preferidos dos foliões. O gerente, Filipe Ferraz, diz que as limitações no horário de encerramento e a proibição de fogareiros na rua "não tornam viável" a festa. O mesmo pensa o responsável do "Tia Isabel", Jorge Araújo, que também vai encerrar esta noite. O Café Vianna e o Astória, na Praça da República, já têm reservas, mas sem comparação a anos anteriores.
Cheiro a manjerico
De volta ao Porto, na Praça da República e à porta da Estação de S. Bento, o verde dos manjericos pinta a paisagem e o seu cheiro perfuma o ar. "Só não podemos vender o alho-porro e a erva-cidreira que estão proibidos por causa da covid", diz Maria Campos. Na Fontinha vendem-se os balões de ar quente e martelos. Amanhã, às 11 horas, há missa na Igreja de S. João Novo, presidida pelo bispo.
PSP reforça policiamento no terreno
A PSP, em colaboração com as polícias municipais do Porto e de Gaia, vai desenvolver esta noite "ações de fiscalização preventiva", nomeadamente nos acessos a ambas as cidades e na observância dos horários de funcionamento dos estabelecimentos, a utilização de máscara, bem como impedir as concentrações ou o consumo de bebidas alcoólicas na via pública. A Metro vai reduzir a sua oferta durante a noite de S. João.