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É a maior crise sismovulcânica da ilha açoreana desde que há registos, há 35 anos. Hipótese de erupção não está descartada.
Vir a acontecer em São Jorge, nos Açores, o que se registou na ilha espanhola La Palma, em setembro do ano passado, com a erupção do vulcão Cumbre Vieja, é uma hipótese que não está descartada. Aliás, neste momento, especialistas e Proteção Civil têm todos os cenários em cima da mesa. É que, desde sábado, às 16.05 horas, até ontem, o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) analisou mais de 1800 sismos, 94 dos quais sentidos. Está em curso, por isso, aquilo que é apelidado de crise sismovulcânica.
Rui Marques, presidente do CIVISA, adiantou ao JN que a atividade sísmica registada está "muito acima daquilo que é o normal para este sistema vulcânico fissural [das Manadas]" e que "pode ocorrer um sismo de maior magnitude, que provoque danos". Principalmente porque os epicentros têm sido registados perto da localidade de Velas, na zona sul da ilha. "Por outro lado, pode evoluir para aquilo que é uma erupção vulcânica", explicou o especialista, referindo que se trata de um sistema vulcânico ativo, que teve erupções em 1580 e em 1808.
Na realidade, segundo o presidente do CIVISA, até ontem, na crise em curso, o sismo de maior magnitude atingiu 3,3, na escala de Ritcher, e uma intensidade de 4/5, na escala de Mercali Modificada. Todos os mais de 1800 sismos analisados eram, contudo, de origem tectónica (ler caixa). Apesar disso, Rui Marques sublinhou que "não há registo de uma crise desta dimensão neste sistema vulcânico, desde que existe esta rede mais robusta de vigilância, há 35 anos".
"Temos que estar calmos"
Apesar de nas primeiras horas de atividade sísmica - na tarde e noite de sábado - a frequência de sismos por hora ter sido maior, só entre a meia-noite e as 16 horas de ontem foram sentidos pela população 13 sismos. A situação tem causado algum alarme, levando mesmo a que a Proteção Civil dos Açores já esteja a preparar medidas preventivas, que possam ser adotadas no caso de um cenário de um sismo de maior magnitude ou de uma erupção (ler ficha).
Apesar dos receios, a população tem tentado manter a normalidade. "Não vale a pena dizer que não temos medo, porque é claro que temos, mas há que manter a calma e ir vendo o que acontece. Convém não entrarmos em pânico", deixou claro Olinda Pinto, do restaurante Velense, em Velas. Até porque, apesar dos repetidos sismos causarem sobressalto, "não se pode lutar contra a natureza".
Viagem cancelada
O presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, anunciou ontem que não vai integrar a comitiva da visita oficial do executivo ao Brasil, que estava agendada para hoje, devido à crise sismovulcânica em curso.
Atividade de origem tectónica
Todos os sismos analisados até ontem eram, segundo Rui Marques, de origem tectónica, o que significa que estão relacionados com movimentos de roturas em falhas ativas ou em libertação de energia. Por seu turno, os sismos de origem vulcânica são gerados pela movimentação de fluídos magmáticos. Esses últimos ainda não foram registados durante a crise sismovulcânica que está em curso em São Jorge.
