Moradores do Bairro da Jamaica desmentem versão da PSP e asseguram que a violência policial é comum.
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"Enquanto os agentes que pontapearam uma senhora indefesa de 62 anos, como se de lixo se tratasse, continuarem a trabalhar, vamos continuar a manifestar-nos". Foi assim que os moradores, essencialmente jovens, do Bairro da Jamaica, no Seixal, abordaram na tarde de terça-feira a onda de violência em vários pontos de Lisboa e Setúbal, motivada pelos conflitos da manhã de domingo entre a PSP e moradores do bairro.
"Não é só o Bairro da Jamaica que está inconformado com o que aconteceu no domingo. Todos os bairros onde há violência policial estão contra o uso de força excessiva e abuso das autoridades", diz Higina Coxi, moradora que no domingo se envolveu numa cena de pancadaria com outras mulheres, o que motivou a presença da PSP. A sua familiar, Aurora Coxi, também esteve envolvida nas agressões.
"Os agentes da PSP mentem quando dizem que foram recebidos com pedradas", explica a moradora. "O meu irmão, que me protegeu das agressões com faca pelas outras mulheres, foi agredido pela PSP e, quando caiu ao chão, arremessou uma pedra ao agente, atingindo-o no peito, não na cara como referem."
Ana Sofia, moradora no bairro há 13 anos, mostra grande ceticismo face ao resultado do inquérito do Ministério Público e aponta para novas manifestações, como a convocada para a próxima sexta-feira junto à Câmara do Seixal.
"Se não nos unirmos contra a violência policial, nada vai acontecer", refere a jovem de 18 anos. E acrescentou que, na tarde de segunda-feira, quando cerca de 200 pessoas se manifestaram na Baixa lisboeta resultando em confrontos entre Polícia e protestantes, apenas quatro ou cinco eram do Bairro da Jamaica. "As restantes eram de bairros solidários connosco", afirma.
O sentimento de revolta é evidente neste que é um dos maiores bairros ilegais do país e onde decorre atualmente um processo de realojamento em massa. Sessenta e quatro famílias de um dos lotes já foram realojadas e a Autarquia tem em fase de aquisição 38 novas casas para realojar as famílias do segundo lote.
É expectável que até 2022 o bairro desapareça e sejam atribuídas casas às 170 famílias residentes, num esforço financeiro de 15 milhões de euros, da Autarquia e do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana.