<p>Começou a época da apanha da azeitona em muitos olivais da região transmontana. Porém, a Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD) espera um ano complicado, por causa dos efeitos da seca.</p>
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António Branco, presidente da AOTAD, que representa 10 mil produtores, acredita que pode haver "mais toneladas de azeitona mas menos produção de azeite". São as indicações das primeiras campanhas de apanha da azeitona que já começaram. "Andamos a fazer alguns testes mas parece-nos que o rendimento está a valores muito reduzidos", acrescenta.
A situação é preocupante porque, normalmente, a região tem rendimentos acima da média nacional. A seca deste ano é um dos motivos da previsão negativa. António Branco diz, no entanto, que a qualidade vai ser igual e que um dos factores que poderia contribuir para o aumento de produção nos olivais tradicionais transmontanos seria a construção de um regadio, processo que está muito atrasado. "É praticamente a única região do país onde não abriram concursos para o regadio e era importante que isso acontecesse, porque demora quase dez anos a construir. Estamos a meio dos fundos comunitários e não temos nem um", conclui.
Centenas de pessoas vão estar envolvidas na apanha da azeitona, um dos produtos que traz maior riqueza para os agricultores da região transmontana. Cerca de metade da produção nacional de azeitona de mesa e cerca de 35% do azeite produzido em Portugal são oriundos de Trás-os-Montes.
Em média, produz-se na região cerca de 45 mil toneladas de azeitona e 7500 toneladas de azeite, por ano, com a particularidade de ter a sua tipicidade proveniente das variedades de oliveiras regionais mais comuns, das quais se destacam a verdeal, a cobrançosa e madural, que lhe confere um elevado grau de qualidade, simbolizado numa dezena de marcas com Denominação de Origem Protegida (DOP) que está a ser exportado para os países nórdicos, EUA, Canadá e Japão.
Para Jerónimo Abreu e Lima, produtor da Quinta da Fonte (Mirandela), vencedor do prémio Mário Solinas (Espanha), no ano passado, o mérito da qualidade do azeite "é das características do microclima da região". De resto, basta o agricultor "caprichar" e ter cuidado na selecção e "avaliar a altura ideal da maturação da azeitona para a colher", afirma.
Jerónimo Abreu e Lima tem cerca de seis mil oliveiras, mas, devido à falta de rentabilidade no sector, há três anos que trabalha sozinho. "Para o trabalho, o investimento e para os riscos que corremos, não é possível contratar ninguém", adianta.
Sobre esta realidade, a Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro considera que é indispensável Portugal "apostar cada vez mais na valorização e promoção do Azeite com Denominação de Origem Protegida (DOP) em detrimento do mercado de granel e da produção de azeite sem qualquer nacional", diz o presidente da direcção.
António Branco lamenta que não exista um organismo que represente o azeite nos mercados internacionais. "Estes prémios provam que o azeite português é de excelência e não estamos a saber aproveitar a sua riqueza", acrescenta.