<p>Há seis anos que não há sossego na pequena aldeia de Redundo, em Monte Córdova, no concelho de Santo Tirso. A pedreira contígua revelou-se má vizinha: os moradores dizem que os rebentamentos danificam as casas e exigem reparações.</p>
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"Não é uma zona sísmica, mas passou a ser. Instalaram-na à nossa porta", ironiza Maria José Lagoa, voz do desalento que, desde 2003, mora com os vizinhos da pedreira de Cabanas. Atribuem os danos - fissuras que percorrem os tectos e descem pelas paredes, tijoleiras e pedras rachadas e telhas partidas - que, a partir de então, começaram a ornamentar as respectivas habitações, à exploração feita pela empresa Mota-Engil.
Ver degradar a habitação, erguida com sacrifício há uma década, não fazia parte dos planos de Maria José. Nem do irmão e vizinho, António Sousa, que ainda está a pagar a moradia ao banco e "não tem dinheiro para reparar os estragos".
Várias queixas chegaram à GNR. Somam-se à reclamação apresentada em 2006, quando, após uma explosão, um pedregulho voou até ao telhado de Rosa Neto, furando telhas, placa e depósito de água na aterragem. De nada adiantou - "falta de provas", encolhe-se Maria José Lagoa. Também o gestor da pedreira de Cabanas foi contactado, afirma a moradora, lamentando não ter colhido a atenção do responsável. "Mandou-me falar com o empreiteiro que construiu a casa", indigna-se a cordovense.
Sobre os estragos na habitação de Rosa Neto, que terá "perto de 30 anos", o engenheiro "disse que era de a casa ser velha. Das novas? Disse que era da construção", conta Maria José. "São vários empreiteiros", aponta, indicando as casas afectadas. Entrega-se ao sarcasmo para concluir: "Então, não há nenhum que trabalhe em condições".
Em resposta ao JN, a empresa Mota-Engil garantiu, através do gabinete de comunicação, "não ter conhecimento de quaisquer danos provocados pela actividade da pedreira". Esclareceu, ainda, que "os rebentamentos regularmente efectuados (…) são constantemente monitorizados e os seus resultados enviados à entidade licenciadora".
Maria José clama, contudo: "Tragam uma pessoa especializada para ver esta situação, porque eu já não aguento mais. Não tenho dinheiro para arranjar a casa".
Da Mota-Engil, os moradores querem uma só resposta: a reparação dos estragos que a empresa não assume. "Não queremos o dinheiro deles", vinca Maria José. "Este Inverno, começou a entrar água. Pensei que fosse da chaminé entupida, mas eram telhas partidas. Tanto a casa puxou que elas rebentaram", lamenta. "É da pedreira. Não tem outra explicação. Sente-se o abalar da terra. É sismo atrás de sismo".