Seis associações de Braga pediram, esta sexta-feira, ao Estado e ao Município, “que ponham fim à degradação galopante” do edifício do Recolhimento das Convertidas, no centro de Braga, sugerindo a sua recuperação e reafetação a novas funcionalidades, como a Casa da Memória da Mulher.
Corpo do artigo
As Convertidas, propriedade do Ministério da Administração Interna, foram inauguradas há já três séculos, a 25 de abril de 1722.
A ASPA - Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural, de quem partiu a iniciativa, em conjunto com a CIVITAS Braga, a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), a APAV (Associação de Apoio à Vítima), o Tin.Bra (Academia de Teatro de Braga) e a Associação Cultural SUONART, querem que “não se perca a memória do que foi este espaço do barroco conventual, salvaguardando o património edificado sem deixar de lhe associar o património imaterial decorrente da memória de quem habitou aquelas paredes”.
Nesse sentido, ”assegurada a recuperação do edifício”, propõem três eixos de estruturação do projeto: a criação de um espaço de memória do Recolhimento das Convertidas, a aproximação à comunidade académica, através da investigação, estudo e divulgação da condição feminina em Braga, em Portugal, na Europa e no Mundo, bem como a abertura à comunidade com espaços e iniciativas.
O apelo é dirigido às entidades públicas com capacidade de intervir, a CIM Cávado e Câmara Municipal de Braga, o Património Cultural IP e a CCDR Norte.
Os seis organismos sublinham que a criação da Casa da Memória da Mulher “pressupõe uma reabilitação que respeite a autenticidade deste memorial do barroco conventual e garanta a preservação do espírito do lugar”.
Contactado a propósito, o Diretor da Comunidade Intermunicipal CIM Cávado, Rafael Amorim, disse que o organismo impulsionou, em 2017, um processo de permuta, que envolve a entrega do Palácio dos Biscainhos, de sua propriedade, ao Estado Português que, nesta data, e por via da Museus e Monumentos EPE, gere a Casa Museus dos Biscainhos.
Em troca, a CIM Cávado “espera receber diversos imóveis, designadamente o Recolhimento da Caridade - atual sede da CIM Cávado na Rua do Carmo - a antiga escola D. Luís de Castro, diversos terrenos da antiga Quinta da Arcela e o Recolhimento das Convertidas".
“Desde 2021 que este processo tem sido desenvolvido numa ação articulada entre a CIM Cávado, a equipa de gestão da Casa Museus dos Biscainhos, a Direção-Geral do Tesouro e, agora, da ESTAMO”, vincou, acentuando que a permuta se encontra na fase final de concretização.
Quando permuta estiver concluída, as Convertidas passarão para a posse do Município de Braga.
No documento, as associações lembram que “o Recolhimento das Convertidas tem sido objeto de inúmeras agressões, a maior parte delas devidas ao descuido e ao descaso, sem que haja atuação por parte dos responsáveis no sentido de salvar este Monumento de Interesse Público, um memorial do barroco conventual, único, que manteve a sua autenticidade até ao século XXI”.
Sublinham ainda “a perda irreparável que significaria o seu desaparecimento, não só para Braga, mas também para o país”, e lembram, ainda, que já se passaram 13 anos desde a sua classificação como Monumento de Interesse Público, "um tempo longo que culmina na agonia lenta deste memorial do barroco conventual, um elemento patrimonial valioso pelo que representa e pela sua singularidade, que apesar de ter resistido à ruína plena, em breve sucumbirá se nada for feito”.
Para concluir, anotam que "nascido num 25 de Abril, dia que é hoje de comemoração da Liberdade, este edifício representa bem o mote escolhido este ano para a celebração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, comemorado a 18 de abril: Património Resiliente Face a Catástrofes e Conflitos”.
Na altura, foi construído por iniciativa do Arcebispo de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles, para instalar "mulheres pecadoras convertidas a Deus".