"Revolução, já!": é este o mote do programa do Museu do Porto para celebrar os 50 anos do 25 de Abril. A apresentação decorreu no Palacete dos Viscondes de Balsemão, um espaço "de memória de rebelião", notou Jorge Sobrado, diretor do museu. "Não vamos fazer sessões solenes. Vamos celebrar na rua", diz Rui Moreira.
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Querendo passar ao lado do atual contexto político e rejeitando qualquer eventual reação pós-eleitoral às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, aproveitou a apresentação do programa do Museu do Porto para deixar algumas críticas à forma como a Assembleia da República marca esta data. As sessões solenes, nota, "são bastante óbvias e previsíveis". "Já sabemos quem usa o cravo e quem não usa. Sabemos quem vai e quem faz uma cena para não ir", observou o autarca. Por isso, justificou, o Porto quis fazer "uma coisa diferente".
A tradição do cravo, se a flor não esgotar naquela data, será cumprida pelo próprio. Quanto ao resto, reforça Moreira: "Vamos celebrar todos, vamos ser todos iguais, como é próprio numa revolução. Vamos celebrar isto na rua, nos teatros, nas bibliotecas, em todo lado".
O autarca, também com o pelouro da Cultura, e que não se poderá candidatar nas próximas eleições autárquicas, deixou um apelo: "Espero que o meu sucessor, se não conseguir arranjar um vereador da Cultura, seja uma pessoa capaz de encarnar esse papel. Isso dá-nos a garantia de que a revolução vai continuar. Ou seja, que vamos ter uma cidade em que dizemos aberta e claramente, para quem goste e para quem não goste, [que] o pilar fundamental das nossas políticas tem que ser a Cultura, porque é isso que nos diferencia".
O programa (que pode ser consultado aqui) foi conhecido nesta manhã de quinta-feira, no Palacete dos Viscondes de Balsemão. O espaço, notou Jorge Sobrado, diretor do Museu e das Bibliotecas do Porto, foi escolhido de forma "simbólica", por tratar-se de "um abrigo de espectros revolucionários".
50 poemas originais
De todas as iniciativas, há uma destacada por todos e considerada "inédita" tanto pelo presidente da Câmara do Porto como pelo comissariado (Jorge Sobrado, diretor do Museu e das Bibliotecas do Porto, e o professor José Augusto Bragança de Miranda): a "Poesia Pública".
De 10 a 30 de abril, 440 mupis espalhados pela cidade vão decorar as ruas com trechos de 50 poemas originais sobre a Revolução dos Cravos, escritos por 50 poetas "portugueses e portuenses". Entre eles estão Adolfo Luxúria Canibal, Andreia C. Faria, Daniel Jonas, Hélia Correia, Mário Cláudio ou Regina Guimarães. No entanto, nenhum trecho será acompanhado pela respetiva assinatura. Isto, "de modo a promover uma apropriação coletiva", passando a ser "um lugar comum da cidade", sublinhou Jorge Sobrado.
Ainda durante o mês de abril, no dia 6 e no dia 20, no Largo do Palacete dos Viscondes de Balsemão e no Museu Militar estão marcadas duas conversas: uma sobre "A estátua do 'general sem medo no Porto' " e também sobre a "Antiga sede e prisão PIDE no Porto", respetivamente.
Pela Ágora, empresa municipal de Cultura e Desporto, está também planeada uma programação especial para a noite de 24 para 25 de abril. Está previsto um espetáculo de videomapping, coordenado pela Comissão para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, desenvolvido com o fotojornalista Alfredo Cunha, o músico Rodrigo Leão e o artista plástico Vhils, e ainda um projeto "com artistas da cidade evocativo da efeméride que terminará com fogo de artifício".
Já no dia 25, pode ler-se no programa distribuído esta manhã, haverá a "tradicional manhã infantil, com atividades dirigidas às crianças e famílias, e uma atuação musical durante a tarde".
Outras iniciativas
Estão marcadas ainda 10 conferências no âmbito do "Fórum do Futuro", de março a dezembro, com Markus Gabriel, Dario Gentili, Catherine Malabou, Viriato Soromenho Marques, António Guerreiro, Philippe Huneman, Sofia Miguens, Maria Filomena Molder ou Arlindo Oliveira.
Haverá ainda um ciclo de cinema "Outras Revoluções", com a curadoria de Edmundo Cordeiro, e que contará com obras de Jonas Mekas, Michelangelo Antonioni, Glauber Rocha, Pedro Costa, Victor Erice, Manoel de Oliveira ou Jean Rouch. Entretanto, decorre desde janeiro e até maio a iniciativa "Projeto Liberdade", que trabalha com reclusos de três estabelecimentos prisionais (Centro Educativo de Santo António, Estabelecimento Prisional da Polícia Judiciária e Ala prisional do Hospital Magalhães Lemos).
A partir de 20 de abril e até 1 de setembro, a Casa do Infante vai receber a exposição "Participação, Já!", onde será reaberto de "forma inédita", sublinhou Jorge Sobrado, o acervo da Biblioteca Pública Municipal do Porto e de filmes de época da coleção do Arquivo Histórico Municipal do Porto. A partir de outubro, a Casa do Infante recebe a exposição "Cinema de Revolução".
Estão também previstos cursos breves na Biblioteca Municipal Almeida Garrett em março, junho e julho, sobre outras revoluções, a ficção portuguesa no final da ditadura, e também sobre música de protesto. Aliás, sobre este último tema, também naquela biblioteca estará patente uma exposição sobre como a música de protesto "destruiu o silêncio".