O mais velho não veio antes com a namorada, com quem ia casar para o ano, para ajudar o pai na condução desde França. Morreu com Arlindo num acidente em Espanha.
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"Normalmente, não diziam quando vinham. Desta vez, o meu irmão ligou a dizer para contarem com eles, que estariam aqui para almoçar. Nunca chegaram", desabafa Vítor Moreira, o irmão de Carlos Moreira, desolado. Carlos, ou Ribeiras, como era conhecido em Queimadela, na serra de Fafe, escapou ao acidente, mas os seus dois filhos, José Lopes, de 24 anos, e Arlindo Lopes, de 17, morreram anteontem em Espanha, na A52, próximo de Zamora, a 80 quilómetros de Portugal.
Os dois viajavam desde França para as habituais férias de verão com o pai, de 51 anos, que sofreu ferimentos. Conta Carlos que seria o pai dos jovens quem estava a guiar na altura da tragédia, mas a condução era dividida com José desde Seinne-Saint-Denis, na região de Paris, onde viviam.
José, o mais velho dos irmãos falecidos, era bem conhecido em Queimadela e em São Miguel do Monte, as duas freguesias agora unidas, próximas dos pequenos lugares onde nasceram o pai, em Ribeiras, e a mãe, na Vila Franca. O jovem, nascido em França, mantinha uma forte relação com a terra dos pais. A noiva, com quem planeava casar no próximo ano, é de Casal d"Estime, outro lugar na serra de Fafe, não muito longe da freguesia de Queimadela.
"Ainda na Páscoa ele cá esteve", diz um popular, sentado na esplanada do Café Val, em São Miguel do Monte. Jeremie Costa, o proprietário - também ele nascido em França, como muitos por ali -, recebia habitualmente José e o seu grupo de amigos quando vinham de férias. "O Zé fazia parte de um grupo de jovens que se juntavam aqui no verão, muito unidos, como irmãos", recordou ontem.
"A vontade de chegar é muita. Viaja-se ao fim de uma jornada de trabalho, cansado, e tudo pode acontecer. Eu cheguei a conduzir só com um olho aberto"
Oficina era um sonho
O mais novo dos dois irmãos, Arlindo, era menos conhecido nas aldeias da serra de Fafe. Jeremie diz que "era um jovem mais reservado, víamo-lo nas festas, mas normalmente com os pais".
Arlindo ainda estudava, ao passo que o mais velho já tinha seguido as pisadas do pai na construção civil. "O Zé era muito esforçado, trabalhava na construção, mas também como mecânico. O sonho dele era ter uma oficina de mecânica por conta própria, lá em França", conta o tio.
No café do Grupo Cultural e Desportivo de Queimadela, a umas centenas de metros do lugar onde Carlos Moreira nasceu e onde ainda vive uma irmã, o pai e os rapazes eram visita regular nas alturas de férias. Carlos Costa, por trás do balcão, recorda-se de os ver crescer, enquanto procura fotografias dos dois entre as muitas pregadas na parede. Costa, antigo emigrante, sabe que "a vontade de chegar é muita". "Viaja-se ao fim de uma jornada de trabalho, cansado, e tudo pode acontecer. Eu cheguei a conduzir só com um olho aberto", admite.
Segundo Vítor Moreira, Carlos já teve alta do hospital de Leon. Os corpos de José e Arlindo foram transportados para Portugal durante o dia de ontem, onde eram esperados pela população, em Queimadela . O funeral realiza-se hoje, às 15.30 horas, na capela de Queimadela.
Vítimas
José Lopes
Idade: 24 anos
Lugar: França
Arlindo Lopes
Idade: 17 anos
Lugar: França