Médicos acusam administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa de não ter preparado meios para fazer face à segunda vaga da pandemia.
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O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) está desde 15 de janeiro sem diretor do Serviço de Urgência. Esta é uma das críticas apontadas ao JN por médicos que trabalham num hospital que, na última semana, viveu "um cenário de guerra". Os mesmos clínicos garantem que o problema da sobrelotação, que se verifica todos os invernos, já era expectável, mas que, para além de algumas "medidas avulsas", nada foi feito, desde a primeira vaga da pandemia, para o minimizar.
Filipe Serralva foi nomeado diretor da Urgência em 2 de julho do ano passado, mas não esteve sete meses no lugar. A 15 de janeiro renunciou à função, em rota de colisão com a administração. Desde então, o cargo não voltou a ser preenchido, embora já tenha sido escolhida a médica que irá substituir Serralva. Este será um dos motivos para que a Urgência do Hospital Padre Américo, que com a unidade de Amarante constitui o CHTS, tenha atingido a rotura.
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"O problema do CHTS não é a covid-19. Há dez anos que o hospital está sobrelotado, sobretudo no inverno. No ano passado, chegámos a ter 50 pessoas internadas na Urgência. Ficaram em macas colocadas nos corredores e, algumas, esperaram dois dias para ir para uma enfermaria", recorda um médico colocado em Penafiel. Sob anonimato para evitar represálias, o clínico alega que "a covid-19 só fez com que a sobrelotação chegasse mais cedo". E, embora esperada, "nada foi feito para acautelar a situação". Pelo contrário, até foram reduzidos os meios relativamente ao período da primeira vaga.
"Tínhamos 50 camas disponíveis só para doentes covid-19, em duas unidades de níveis intermédio e intensivo. Agora, só há uma unidade para esses doentes. E foram desmontadas as estruturas externas usadas para a triagem", realça.
O profissional critica ainda o facto de apenas os médicos de Medicina Interna terem sido destacados para o tratamento do doentes infetados. "Não foi interrompida a atividade programada até saírem as primeiras notícias e só agora é que os médicos de Infeciologia e Pneumologia foram mobilizados. Mas os anestesistas continuam empenhados só nas cirurgias".
Hospital foi foco de contágio
A organização dos circuitos de atendimento na Urgência também merece fortes reparos. Isto porque todos os doentes fazem a inscrição e são triados na mesma sala de espera. "Depois, são colocados em duas áreas distintas. Os negativos à covid-19 numa área limpa, mas os confirmados e os que têm doenças respiratórias ficam no mesmo local. Mesmo que estes últimos não estivessem infetados passaram a estar. O hospital foi foco de contágio", acusa.
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Confrontado com as acusações, o CHTS mantém que "a situação de enorme pressão" sofrida deveu-se ao "facto de estar na região onde se deu a maior concentração da infeção pela covid-19". Frisa, porém, que o hospital "está em fase de estabilização". "Continuando a ser um dos hospitais do país com maior número de doentes internados, tem sentido alívio dessa pressão, com o funcionamento da rede e com transferência de doentes para outras instituições", acrescenta fonte oficial.
Transferências após fim da capacidade de internamento
Nos dias que antecederam a visita da ministra da Saúde ao CHTS foram transferidos cerca de 100 doentes com covid-19 para outras unidades hospitalares. A medida foi tomada após o hospital ter atingido um pico de 235 internamentos e esgotado a capacidade de internamento. Anteontem, dia em que a governante reuniu com a administração do CHTS, havia cerca de 150 doentes internados com covid, dez nos Cuidados Intensivos. Segundo a Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros, em dois dias, registaram-se 12 óbitos no CHTS e foi dada alta a 82 doentes.
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Agosto 2018
No dia 15, o JN noticiava que a Urgência do Hospital de Penafiel estava a "rebentar pelas costuras". A falta de camas de internamento levou a que muitos doentes ficassem internados nos corredores da Urgência.
Novembro 2019
No dia 26, foi notícia no JN que a falta de macas no hospital, e a consequente retenção de ambulâncias, causava preocupação. Um dia antes, 25 ambulâncias ficaram retidas durante horas.
Fevereiro 2020
Foi notícia no JN, no dia 4, que várias ambulâncias estiveram retidas na Urgência devido a um acréscimo de doentes e à greve, dias antes.