Direção-Geral dos Serviços Prisionais diz que desconhece problema naquela cadeia. Sindicato tem informação de que os casos já ultrapassam a dezena.
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Sete guardas da cadeia de Setúbal estão infetados com tuberculose, confirmou ontem a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo. Questionada pelo JN, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) começou por negar conhecimento oficial do problema, admitindo, depois, um único caso. O dirigente sindical Jorge Alves diz que já haverá mais de dez casos detetados, com tendência para aumentar.
"O Departamento de Saúde Pública da ARS de Lisboa e Vale do Tejo confirma a deteção de tuberculose num guarda do Estabelecimento Prisional de Setúbal", assumiu fonte oficial, acrescentando que, "entretanto, a bactéria foi detetada noutros seis guardas prisionais, que não chegaram a ter sintomas da doença e estão a fazer tratamento". Estes são casos de tuberculose latente, em que a bactéria, ou bacilo de Koch, incubou-se no paciente e, por agora, está inativa.
Segundo a ARS, "as medidas adotadas foram as habituais": "Os guardas infetados foram sujeitos a tratamento e as pessoas que com eles contactaram - quer sejam reclusos, profissionais do Estabelecimento Prisional de Setúbal ou visitas - estão a ser rastreados para saber se é necessário aplicar o mesmo tipo de medidas", informou.
Aguarda "comunicação"
Perante as perguntas do JN, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) começou por responder que "o Estabelecimento Prisional de Setúbal não recebeu qualquer notificação de existência de tuberculose em guardas prisionais ou noutros trabalhadores".
"A única referência a esta patologia reporta[-se] a um trabalhador que, após as férias de verão, ficou de baixa médica", acrescentou de imediato, admitindo que, na sequência daquela baixa médica, "o Centro de Diagnóstico Pneumológico de Setúbal procedeu ao rastreio dos trabalhadores do Estabelecimento Prisional de Setúbal".
A Direção-Geral liderada por Celso Manata assumiu depois que, após aquele rastreio, "foram recentemente convocados para consulta cinco trabalhadores". Mas disse que, "até ao momento", não foi feita "qualquer comunicação" sobre o seu resultado à Direção da cadeia, liderada por Ana Paula Matos.
O presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Jorge Alves, estranha o desconhecimento. Ele próprio, após alguns telefonemas, ontem à noite, recebeu informações que confirmaram os sete casos contabilizados pela ARS e outras que apontaram para mais. "Parece que já passa dos dez e que pode haver ainda mais", reportou, explicando que há exames sem relatório e outros por fazer.
Dois infetados na primavera
No início do segundo trimestre deste ano, houve dois reclusos que apanharam tuberculose na cadeia de Setúbal, uma das que tem tido maior prevalência de casos. O dirigente sindical Jorge Alves lembra que a prisão, que tem 188 reclusos e 92 funcionários, "é um edifício bastante degradado". "Mas não sei estes casos de tuberculose têm a ver com as condições de insalubridade", acrescenta.
Ministra "erradicou" doença
"Não há tuberculose nas cadeias. Está erradicada", declarou a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, em 13 de dezembro de 2016, na Assembleia da República.