Apenas quatro mil estudantes puderam assistir à Serenata Monumental de Coimbra que, este ano, regressou à Sé Velha. O momento marca o arranque da Queima das Fitas de Coimbra e de despedida para muitos, num percurso que dizem deixar saudade.
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Diogo Saldanha era o primeiro da fila para se sentar nas escadas da Sé Velha. O finalista de Medicina aguardava desde as 17 horas para entrar no recinto da serenata monumental, o que só aconteceu já em cima das 21.30 horas quando as portas abriram e a zona histórica começou a pintar-se de negro.
O regresso da Serenata à Sé Velha teve regras apertadas, depois de, no ano passado, ter acontecido em forma de manifestação de protesto, organizada pela Secção de Fado da Associação Académica, que não aceitou a proposta da Sé Nova, como local alternativo. Apenas quatro mil estudantes, todos identificados por pulseiras distribuídas previamente, puderam assistir à serenata. "Tive horas e horas à espera por aquele bilhete que poderia ser muito fácil de resolução se se abrisse a toda a gente, seja aqui, seja na Sé Nova, mas, dado que foi esta limitação, tivemos de nos adaptar", apontou Diogo Saldanha.
À medida que entravam no recinto, os estudantes procuravam o melhor lugar e eram várias as estratégias para ocupar o tempo. Beatriz Teixeira, no quarto ano de Ciências Farmacêuticas, jogava cartas com as amigas. "É a primeira vez que estou a ver na Sé Velha. Estou expectante para ver como é que é. Acho que vai ser bonito", dizia a jovem de Viseu. Mais acima, Pilar Branquinho, no último ano de Matemática, preferiu ouvir a canção de Coimbra com os amigos, não finalistas, a sentar-se nas escadas. "Era mesmo especial para mim conseguir ter esta última serenata e num sítio tão especial que é a Sé Velha".
Silêncio e emoção num mar negro
Às doze badaladas, o silêncio tomou conta do Largo da Sé Velha. A serenata foi interpretada por dois grupos: o Grupo de Fado Última Luz e a Inquietação - Grupo de Canção de Coimbra. No alinhamento, que fechou com a tradicional "Balada da Despedida", recordou-se, entre outros, Carlos Paredes.
"Fartei-me de chorar de princípio ao fim, quase. Porque Coimbra não se explica, só vivendo, só estando. Não há outra forma de explicar" contava, no final, Mariana Passos, no quinto ano de Direito. Oriunda da Guarda, estudante diz que o momento significou o "o culminar de cinco anos muito bonitos" e, sendo na Sé Velha, "ainda foi mais especial". "Foi muito, muito bonito mesmo". No final do percurso académico, a estudante considera que a Coimbra "chega-se sem conhecer ninguém e saí-se a conhecer meio mundo. É impossível ficar indiferente a esta cidade."
Matilde Lamy também não escondeu a emoção ao ouvir a canção de Coimbra pela primeira vez na zona histórica. "Coimbra significa uma nova casa, uma nova família, amigos que levo para a vida, experiências, e significa, sem dúvida, a saudade, que fica para sempre", apontava a estudante, no último ano de mestrado de Gestão e Economia da Saúde.
Modelo que cumpre, diz Carlos Magalhães
As restrições nas entradas deveram-se a questões de segurança, com Carlos Missel, coordenador-geral da Comissão Organizadora da Queima das Fitas de Coimbra, a admitir que é "um fator muito importante. Compreendemos que é preciso criar um recinto onde haja circulação, tanto dos meios de socorro como das entidades de segurança", afirmou.
O coordenador acrescenta que a solução, encontrada em conjunto, é "um teste" para "ir limando e melhorando as condições de ano para ano". A organização garante que, tendo em conta a área disponível, "não poderiam caber muitos mais", mas que tentaram "albergar o máximo de estudantes possíveis". Para quem não conseguiu pulseira para entrar no Largo da Sé Velha, foi instalado um ecrã gigante na Porta Férrea.
"Este modelo é o modelo que cumpre com aquilo que é necessário para que a Queima das Fitas seja Queima das Fitas de Coimbra" salientava o presidente da Associação Académica de Coimbra, Carlos Magalhães. Para o presidente dos estudantes o regresso à Sé Velha foi "uma vitória, tendo em conta que já acontecia desde 2019".
Três mil latas de cerveja por carro no cortejo
O cortejo da Queima das Fitas de Coimbra realiza-se este domingo, 25 de maio, a partir das 14 horas, com a participação 102 carros alegóricos que vão desfilar entre a Alta Universitária e a Ponte de Santa Clara. À semelhança de anos anteriores, os carros têm um limite de três mil latas de cerveja e três garrafas de vidro por elemento do carro. A medida é justificada com o "lixo que o cortejo produz", segundo Carlos Missel. Há, também, um concurso "para os carros reciclarem mais".
A festa dos estudantes obriga a realizar condicionamento de trânsito e alterações a alguns percursos dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) no sábado e no domingo (ver as alterações aqui).
Entre a meia-noite de sábado e as 22 horas de domingo, será proibido o estacionamento no Largo da Feira, Largo Marquês de Pombal, Rua dos Estudos, Largo D. Dinis, Calçada Martim de Freitas, Praça João Paulo II (Arcos do Jardim), Rua Alexandre Herculano e Praça da República.
No domingo, 25 de maio, a realização do cortejo obriga a interditar a circulação no percurso habitual a partir do meio-dia e até às 22 horas. O corte afeta a Rua Larga, Largo D. Dinis, Calçada Martim de Freitas, Praça João Paulo II, Rua Alexandre Herculano, Praça da República, Avenida Sá da Bandeira, Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, Praça 8 de Maio, Rua da Sofia, Rua Manuel Rodrigues, Rotunda da Cindazunda, Avenida Fernão de Magalhães, Avenida Emídio Navarro, Largo da Portagem e Ponte da Santa Clara.
"Este encerramento implica condicionamentos noutras vias da Baixa da cidade, nomeadamente: Rosa Falcão, Mário Pais, Simões de Castro, João de Ruão, do Carmo, Pedro Olaio, dos Oleiros e Avenida Dom Sesnando Davides (Avenida Central)", pode ler-se no comunicado da Câmara de Coimbra.
No domingo realiza-se também, às 10 horas, a Queima do Grelo dos futuros finalistas, no Largo da Sé Nova.