O coordenador da União de Sindicatos de Viana do Castelo apelou aos restantes elementos da administração dos estaleiros navais da cidade a "seguirem" o exemplo do líder e "saírem" da empresa.
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"Se eu fosse membro do Conselho de Administração, solidário com o meu líder, era um ato nobre pedir a demissão e ir embora", desafiou Branco Viana.
O sindicalista reagia ao anúncio de demissão feito por Carlos Veiga Anjos.
O ainda presidente dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, um dos dois elementos não executivos, além de três administradores executivos, confirmou, quarta-feira, à Lusa, que vai pedir a demissão depois das tentativas de agressão de que diz ter sido alvo.
O Coordenador da União de Sindicatos, e quadro dos estaleiros, diz tratar-se de uma "tentativa de vitimização" do presidente, que queria sair da empresa no preciso momento em que os trabalhadores tentavam chegar à administração.
"Mesmo na hora da saída não apresenta dignidade", criticou.
Em causa o plenário que decorreu na empresa e no qual mais de 650 trabalhadores aprovaram uma moção exigindo a suspensão imediata do processo de reestruturação que prevê a saída de 380 funcionários, de um total de 720, até final do ano.
Os trabalhadores dirigiram-se, depois, ao edifício da administração para entregar o documento, em mão.
"O que se passou esta tarde foi uma vergonha, inqualificável. Fui impedido de sair da empresa pelos trabalhadores, que depois tentaram forçar a entrada no edifício da administração, onde me refugiei. Naturalmente queriam molestar os elementos da administração", afirmou Carlos Veiga Anjos à Lusa.
De seguida, enquanto representantes dos trabalhadores entregavam a moção, no exterior do edifício da administração instalava-se a confusão, com outros funcionários e forçarem a entrada, altura em que partiram, inclusive, os vidros de uma das portas.
Face a este cenário, Veiga Anjos garantiu à Lusa que já esta quinta-feira viaja para Lisboa e vai apresentar no dia seguinte a demissão ao accionista, Empordef, e ao Ministério da Defesa.
"Os trabalhadores dos estaleiros devem estar satisfeitos com esta saída. Por muito respeito que se tenha pela idade dele, já não acrescentava qualquer mais-valia para a empresa e esta saída foi apenas um pretexto", garante Branco Viana.
O dirigente sindical comentava esta saída após uma Assembleia Municipal ordinária em que foi aprovada, por unanimidade, uma proposta de "defesa" dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
"Hoje sentimos que os trabalhadores e a comunidade vianense estão unidos em torno desta empresa. Só é preciso encontrar outra gente para liderar os estaleiros", apontou ainda, garantindo que, no actual modelo, esta reestruturação não tem condições para ser implementada.
Aos 67 anos, os estaleiros enfrentam a pior crise da sua história, com 200 milhões de euros de passivo e um prejuízo de 40 milhões em 2010.
Nos últimos doze meses o accionista foi obrigado a injectar na empresa 26 milhões de euros, nomeadamente para pagar salários.