Protesto em frente à Petrogal, na tarde desta quinta-feira, assinalou os quatro anos do anúncio do encerramento da unidade de refinação. Os sindicatos reivindicam a defesa dos direitos dos trabalhadores despedidos e exigem que os terrenos do complexo petroquímico não venham a servir a especulação imobiliária.
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Exigir que o futuro dos terrenos da extinta refinaria da Petrogal, diante do mar de Leça da Palmeira, em Matosinhos, passe pelo “uso industrial, e não pela especulação imobiliária”, e lutar pela “defesa dos trabalhadores” dispensados na sequência do processo de desativação foram as reivindicações dos dirigentes das estruturas sindicais afetas à CGTP que organizaram um protesto à porta da unidade, na tarde de ontem, em vésperas da data em que se assinalam quatro anos sobre o anúncio do desmantelamento do complexo petroquímico.
“Esta é uma ação de denúncia. Quatro anos passaram desde que se tomou a decisão de encerramento da refinaria de Leça da Palmeira e desde que foi prometido aos trabalhadores que nenhum deles iria ser abandonado em todo este processo. Quatro anos passaram desde que 147 trabalhadores foram vítimas do despedimento, e cerca de 100 ainda encontram nas suas vidas uma indefinição enorme relativamente ao seu futuro”, vincou o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, que marcou presença no protesto, ao lado de dirigentes de estruturas afetos àquela intersindical, como o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras - SITE e a Fiequimetal.
“Vínculos precários”
Sem avançar números concretos, o líder da CGTP referiu que, entre os trabalhadores despedidos pela Galp, alguns “continuam desempregados”, sendo que outros estão a trabalhar com “vínculos precários” ou auferem o “salário mínimo nacional”. Tiago Oliveira deixou, por isso, o apelo: “Não se esqueçam destes trabalhadores”.
Entre os funcionários despedidos está César Martins, que enfrentou o processo de despedimento aos 50 anos e, ao fim de quatro anos, perdeu o direito ao fundo de desemprego. Frequentou uma das formações profissionais propostas para os trabalhadores dispensados – a de marinheiro maquinista, no caso –, mas oferecem-lhe “o ordenado mínimo”, quando, na refinaria, auferia “perto de dois mil euros”.
Carlos Cunha é uma das 104 pessoas que mantêm o posto de trabalho na refinaria, que tem o parque logístico a funcionar para armazenamento, mas sem saber qual será o futuro. “Continuamos numa incógnita, porque não há um prazo. Para ter o parque logístico, a Galp tem de ter licença de refinação, que dura até 2030. Depois disso, não sabemos”.
“Opção política”
Afirmando que “o encerramento da refinaria de Matosinhos foi uma opção política”, Tiago Oliveira lembrou que, sobre o “futuro destes terrenos, ainda hoje ninguém sabe o que se está a preparar”.
Para o líder da CGTP, o fecho da Petrogal significou “abdicar de um setor estratégico do país para dar resposta a interesses que estão hoje bem patentes”. “Vamos continuar a exigir que estes terrenos sejam um investimento na criação de emprego, dinamização de economia e que não seja apenas para especulação imobiliária”.
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Demolição continua
O anúncio do encerramento da refinaria foi feito a 21 de dezembro de 2020, e a unidade cessou a refinação em abril do ano seguinte. As operações de demolição arrancaram em outubro de 2023, altura em que começaram a ser desmantelados os tanques de armazenamento. Os trabalhos prosseguem.
Polo universitário
A Universidade do Porto pretende instalar, num terreno doado há anos pela Petrogal à Câmara, um polo de engenharia espacial cuja obra deverá arrancar em 2026. Há, depois, a intenção de também ocupar uma parcela da refinaria.
Unidade tecnológica
A Galp mantém que para o local está previsto um complexo tecnológico.