A arte de Ricardo Nicolau de Almeida faz-se do lixo. Em particular, do plástico que recolhe nas praias. Pode ser uma escova de dentes, a tampa de contentor, a base de uma cadeira, uma rede de pesca, um tacão que faz de nariz no rosto de um Pinóquio.
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As ideias surgem consoante o material que encontra e em todas as peças há uma mensagem: a poluição dos oceanos. A partir desta quinta-feira, é possível conhecer o trabalho do artista na exposição "SINTOMA", no Museu dos Clérigos, no Porto.
A Irmandade dos Clérigos associa-se ao Dia Internacional dos Museus, que se comemora nesta quinta-feira, chamando a atenção para um dos problemas que mais afetam o ambiente a nível mundial. "SINTOMA" estará patente até ao dia 31 de outubro e deverá captar o interesse de milhares de pessoas, das mais variadas proveniências, dado o fluxo de turistas que todos os dias visitam o conjunto arquitetónico dominado pela torre e pela igreja. Amanhã, a entrada para a exposição é gratuita.
Também para amanhã estão previstas duas subidas à torre, às 21 e às 22 horas, mediante inscrição prévia. Na manhã de sábado, a Irmandade promove uma ação de limpeza na praia fluvial do Areinho, em Gaia, em parceria com a associação ambientalista Agir pelo Planeta e com a participação de jovens estudantes. Em ambos os casos, será uma oportunidade para ouvir o artista falar sobre a temática.
Ricardo Nicolau de Almeida começou a trabalhar mais com o plástico há dez anos. Recolhe o lixo nas praias, sobretudo na região Norte, mas também tem feito incursões por outras paragens, da ponta de Sagres a Moledo, passando pelas falésias do Cabo da Roca, de Sintra e da Costa Vicentina. "Zonas de difícil acesso e onde há mais lixo", refere ao JN. Hoje em dia, até estuda as dinâmicas das correntes, das marés e das chuvas, para se preparar melhor para a recolha da matéria-prima.
Em "SINTOMA", o artista portuense mostra ao público peças que concebeu, como rostos ou animais - chama-lhes "puzzles impossíveis" - , e também séries de objetos ordenados por cores ou tons. Numa das montras, estão alinhados brinquedos, alguns dos anos 60 ou 70, que ficaram décadas enterrados na areia. Regra básica do artista é nunca partir nem pintar os materiais que encontra.
O objetivo do seu trabalho é mostrar que "há muito lixo que vai dar às praias, mas também há muito lixo no fundo dos oceanos". A propósito, lembra que os animais marinhos acabam por comer plástico, ou ficam presos nas redes de pesca, e que as algas e os corais estão a perder de produzir oxigénio. E deixa a mensagem: "Temos de aprender a viver com menos plástico e a usá-lo com mais responsabilidade".