Bombas enviam águas pluviais para rio ladeado por muro e comportas. Solução inspirada em modelo neerlandês poderá ajudar cidades com problemas similares.
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António Abrantes, que há 32 anos instalou na baixa da cidade de Águeda o seu quiosque e livraria, vivia com o "coração nas mãos", com medo que chovesse muito e o estabelecimento ficasse inundado. Em alguns anos a água não ultrapassava os 50 centímetros, mas em 2015 chegou a atingir "1,6 metros no interior" do estabelecimento. Só este inverno, pela primeira vez, está "descansado" porque um sistema de drenagem inovador ficou concluído há meses e nas recentes chuvas provou que "funciona".
"O Largo 1.º de Maio, Rua Luís de Camões, Vasco da Gama, Praça da República eram zonas que historicamente ficavam inundadas. Quando o rio atingia cotas mais altas que as ruas, a drenagem de águas pluviais, que estava canalizada para o rio Águeda, seguia em sentido contrário", explica o presidente da Câmara, Jorge Almeida, satisfeito por ver o novo sistema em funcionamento.
Inspirado no modelo neerlandês, foi concebido por José Saldanha Matos, especialista em Ambiente e Recursos Hídricos (também responsável pelo plano de drenagem para Lisboa) e poderá ser, acredita o edil, um exemplo a seguir por outras cidades com problemas semelhantes.
A primeira fase da obra custou 1,5 milhões de euros e foi comparticipada quase na totalidade por fundos europeus (POSEUR). Ao longo do último ano e meio parte das condutas de águas pluviais da cidade foram refeitas e direcionadas "para um reservatório, ligado a três bombas muito potentes, com capacidade de bombagem de 2,1 metros cúbicos por segundo, que manda a água para o rio, mantendo a cidade seca", explica Jorge Almeida, sublinhando que o sistema tem um gerador que garante o funcionamento caso a energia elétrica falhe.
Em várias condutas de águas pluviais, acrescenta, foram "instaladas válvulas de maré, que fecham por pressão quando a água do rio sobe". O rio é ladeado por muros e foram colocadas comportas estanques nos pontos de acesso, elevando assim a cota máxima suportada. Se, no futuro, devido às alterações climáticas, a cota do rio subir muito, será possível construir um reservatório maior por baixo do local onde está instalado o sistema de bombagem, que ajudará a acomodar picos de chuva.
Sistema gémeo noutra zona
Uma segunda fase da obra, para instalar "um sistema gémeo" na área entre a ponte e as antigas instalações do Instituto do Vinho e da Vinha, está agora a começar. Ascenderá a 1,9 milhões de euros.
O retorno de todo este trabalho é "tranquilidade" para os comerciantes e moradores daquela zona da cidade. Nos passados meses de novembro e dezembro, "se não tivéssemos o sistema a funcionar, tínhamos tido cheias, sem dúvida nenhuma", diz Jorge Almeida.
Vítor Silva, coordenador da Proteção Civil municipal, confirma que o sistema tem sido de uma "importância extrema". "Antes tínhamos os lojistas e habitantes com uma preocupação enorme, temiam que os bens fossem danificados pela água. Estavam sempre com o coração nas mãos". Agora, "quase nem nos abordam, o que comprova que o sistema está a corresponder àquilo para que foi concebido".