A situação do consumo e tráfico de droga no Porto chegou às páginas do jornal norte-americano "Washington Post". "Já saudado por ter descriminalizado as drogas, Portugal tem agora dúvidas" é o título da extensa reportagem assinada por Anthony Faiola e Catarina Fernandes Martins.
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O trabalho parte do exemplo do Porto para dar conta que, no nosso país, começam a levantar-se vozes contra o facto do consumo não ser punido por lei, designadamente de agentes da autoridade, que ligam o aumento do número de toxicodependentes à subida da criminalidade.
A reportagem dá conta do consumo de estupefacientes a céu aberto, perto de escolas e de condomínios de luxo. Referindo que a Polícia reforçou as patrulhas em áreas mais afetadas pelo problema, os jornalistas sustentam que os agentes pouco podem fazer, precisamente porque o consumo não é crime. A propósito, contam o caso de um homem que, desafiador, preparou um cachimbo de crack em frente a quatro polícias, que se afastaram a abanar a cabeça.
A reportagem, ilustrada com várias fotos, avança, então, que o fenómeno crescente está a levar muitas vozes a questionar: "Será tempo de reconsiderar o modelo nacional [de descriminalizar o consumo de drogas], globalmente saudado?"
Nesse contexto, citam o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira: "Atualmente, é proibido fumar tabaco junto a uma escola ou a um hospital. É proibido fazer publicidade a gelados e a doces com açúcar. E, ainda assim, é permitido às pessoas injetarem-se ali". "Normalizamos isso", acrescenta o autarca, citado pelo "Washington Post".
O texto dá conta que o consumo de droga em Portugal, tecnicamente, continua a ser contrário à lei, mas os toxicodependentes, em vez de serem presos, são encaminhados para tratamento, de adesão voluntária.
A reportagem insiste que a visibilidade do fenómeno atingiu o pior ponto em décadas. "A polícia está de mãos atadas", afirma Leitão da Silva, comandante da Polícia Municipal do Porto, também citado no trabalho, considerando que a situação está similar ao período antes da descriminalização.
Referindo que as taxas de overdose em Lisboa atingiram o máximo dos últimos 12 anos e que a quantidade de detritos ligados ao consumo de droga no Porto subiu 24% entre 2021 e 2022, o "Washington Post" acrescenta que o crime, incluindo roubos na via pública, escalou 14%, o que é atribuído pelas autoridades ao aumento do consumo de droga.
A reportagem "visita" depois alguns dos pontos mais problemáticos do Porto, da Sé à zona do Fluvial, dando conta das preocupações dos moradores.