O primeiro ministro, José Sócrates, lançou, hoje, quarta-feira, em Penamacor, a última fase do Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira. E desafiou os agricultores a promoverem o emparcelamento para tirarem partido do mais moderno regadio da Península Ibérica.
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A terceira e última fase do projecto de Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira (AHCB), iniciado em finais da década de 50, ficou ontem marcada pela entrada em funcionamento da central mini-hídrica de Meimão, em Penamacor. E pela consignação do bloco de rega em Fatela, no Fundão, a última etapa de um projecto de 322 milhões de euros que ficará concluído até Agosto de 2011. O sistema estará totalmente operacional na campanha de rega de 2012.
Afectivamente ligado à Cova da Beira, onde viveu, foi com emoção que o primeiro ministro deu como praticamente concluído um empreendimento que começou a ser estudado no ano em que nasceu: 1957. “Está na hora de a acabar”, desabafou José Sócrates.
O primeiro ministro sublinhou o facto de pertencer a uma geração que poderá orgulhar-se de não ter adiado o regadio da Cova da Beira. “Fizemos aquilo que tinha de ser feito”, declarou.
Dirigindo-se particularmente aos agricultores beneficiários do sistema, o chefe do Governo lembrou os novos desafios que se colocam à agricultura da região. “Depois da água, que já cá está, temos de olhar para a dimensão da propriedade”, desafiou.
José Sócrates considerou que a chegada da água à Cova da Beira é importante, mas precisa de ser complementada com acções que permitam aos agricultores ganhar escala e dimensão internacional, num apelo ao associativismo e ao emparcelamento. Só com dimensão de propriedade agrícola, frisou Sócrates, a agricultora “poderá ser mais competitiva para concorrer nos mercados internacionais”.
A dimensão das propriedades agrícolas na Cova da Beira, que têm em média um hectare, é também uma das preocupações de Domingos Torrão, presidente da Câmara Municipal de Penamacor.
“Temos água no mais moderno sistema de regadio da Península Ibérica. Falta-nos área de cultivo com dimensão”, defende o autarca, que espera ver concretizada a reforma dos prédios agrícolas e florestais.
António Serrano, ministro da Agricultura, reforça que para um sistema de 322 milhões, com as potencialidades da Cova da Beira, a única saída será a associação entre agricultores.
“Não podemos desperdiçar este investimento”, avisa o governante, que defende o envolvimento de agricultores e investidores no projecto. “O mais importante é a organização”, diz António Serrano, que admite soluções alternativas ao emparcelamento.
À sua chegada à aldeia de Neimão, no concelho de Penamacor, para inaugurar a mini-hídrica que já está a bombear milhões de metros cúbicos de água para “o mais moderno sistema de regadio da Península Ibérica e o segundo maior do país logo a seguir ao Alqueva”, o primeiro-ministro tinha à sua espera um grupo de agricultores descontentes.
Na origem do protesto, pacífico, está a perda, desde que começaram as obras do Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira, do regadio tradicional que lhes garantia a rega da maioria das propriedades agrícolas da aldeia.
“É uma perversidade termos tanta água à porta, como se diz, e não a podermos usar. Ainda por cima, depois de nos tirarem a pouca que tínhamos”, clamava um dos habitantes, apontando a moderna mini-hídrica que ontem começou a funcionar.
Confrontado com a situação, o ministro da Agricultura, António Serrano, reconheceu o problema. E embora admita ser “tecnicamente difícil de resolver”, garante que “está a ser tratado”.
António Gomes, presidente da Associação de Regantes da Cova da Beira, que já beneficia do regadio há 16 anos e lhe conhece bem as vantagens, mostra-se “solidário” com as preocupações dos moradores e agricultores em geral da aldeia de Meimão.
“Numa altura em que novos horizontes se abrem para a agricultura nesta região, e em que temos condições para atrair gente nova para o trabalho nas terras, tudo faremos para que a situação anterior seja reposta nesta localidade”, promete o dirigente.