Empresa vive situação económica grave, mas Câmara de Gaia não resgata a concessão. Bilhética intermodal chamaria mais passageiros, porque baixaria bastante o tarifário.
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A sobrevivência do teleférico de Gaia, com a operação suspensa desde dezembro e numa situação financeira difícil - a concessionária já foi obrigada a recorrer à Banca -, pode passar pela sua integração na rede Andante, bilhética usada nos transportes públicos da Área Metropolitana do Porto. Isso permitiria aumentar o número de passageiros, devido à redução substancial dos preços atuais, que afasta muitos dos potenciais clientes. Apesar da grave situação da empresa, a Câmara de Gaia não vai resgatar a concessão.
Foi a própria Telef quem o pediu à Autarquia, segundo o Jornal de Negócios, que também revelou o recurso a "financiamento bancário" para enfrentar as dificuldades financeiras. A Câmara poderia resgatar a concessão a partir de 1 de abril, altura em que o contrato celebrado fez dez anos.
No entanto, a Autarquia não só acedeu ao pedido da empresa como também propôs a alteração da cláusula de resgate: agora, só será possível em 2046, ou seja, "a partir dos últimos cinco anos da exploração". Caso isso aconteça, a empresa, que tem a concessão por 40 anos, receberá sempre uma indemnização. O JN questionou a Telef, mas não obteve resposta.
Transporte público
O presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, admite que "o município está empenhado no reforço dos transportes públicos do concelho, comparticipando o sistema com obrigações de serviço". No entanto, esse plano não abrange o teleférico, onde a Autarquia não pretende injetar qualquer verba.
"Acreditamos, isso sim, que a integração no Andante aumente a procura e resolva pelo efeito "escala" o défice tarifário, sem prejuízo para o concessionário", esclarece o autarca, explicando que só dessa forma poderia haver alguma alteração nos preços atuais.
Uma viagem de ida no teleférico custa seis euros e de ida e volta fica por nove euros. Há ainda a alternativa de aderir a um passe mensal, que custa 39 euros e permite quatro viagens por dia. A tarifa do passe único que permite viajar por toda a Área Metropolitana do Porto, em qualquer meio de transporte, fica por 40 euros.
Encontrar uma solução de integração do transporte entre o Jardim do Morro e o Cais de Gaia no Andante e evitar a comparticipação municipal à bilhética só será possível por mútuo acordo.
Álvaro Santos, comerciante de 70 anos, critica o facto de, apesar de ter o teleférico a poucos metros do estabelecimento, ficar-lhe mais barato ir de táxi do Cais de Gaia à Avenida da República: "Pago 3,5 euros". O comerciante observa que o serviço do teleférico não serve residentes nem para comerciantes, mas sim turistas.
Adão Fernandes, de 65 anos, dono de um restaurante, explica que o teleférico só ajudaria no aumento de clientes "se fosse uma coisa barata". "Ninguém paga seis ou nove euros para vir aqui abaixo comer. Se fosse transporte público era ouro sobre azul", garante.
DETALHES
Encerramento
Depois de ter estado mais de dois meses encerrado, em 2020, devido ao novo coronavírus, o Teleférico de Gaia reabriu em junho do mesmo ano. Na altura, a elevada afluência de portugueses surpreendeu os funcionários. Voltou a encerrar em dezembro e mantém-se de portas fechadas.
Equipa
A equipa tem 23 pessoas e, em junho, a empresa assegurou ao JN que não tinha recorrido ao lay-off. À data, a Telef tinha reduzido o número de pessoas que podiam viajar na cabine ao mesmo tempo e manter a distância de dois metros e apostou na desinfeção dos bancos.