Sondagem do Porto: Pedro Duarte e Manuel Pizarro empatados, Chega em terceiro e Esquerda em queda
Análise de Pedro Ivo Carvalho e gráficos de Inês Moura Pinto
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A batalha pela Câmara do Porto parece estar tão intensa quanto uma final disputada entre dois grandes clubes de futebol. Pedro Duarte (PSD/CDS/IL) e Manuel Pizarro (PS) estão empatados a menos de uma semana das eleições autárquicas, embora o primeiro registe uma vantagem residual de 0,2 pontos percentuais face ao socialista. Diferença que se dilui facilmente na margem de erro de 4% da sondagem da Pitagórica para o JN, TSF, TVI, CNN Portugal, Nascer do Sol e ECO.
Mas mais do que um empate técnico, o que está aqui em causa é uma colagem a toda a linha entre os dois candidatos, dado que as variações são meramente residuais: Pedro Duarte alcança os 33,1%, Pizarro obtém 32,9%. Em terceiro lugar nas intenções de voto dos portuenses surge Miguel Côrte-Real, do Chega (10,4%), seguido do candidato independente e vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo (7%). O quinto posto é ocupado pelo candidato do Livre, Hélder Sousa (3,9%), perseguido de perto pelo independente Nuno Cardoso (3,3%) e por Diana Ferreira, a candidata da CDU, que iguala esta votação (3,3%). Já Sérgio Aires, do Bloco de Esquerda, alcança os 2,9%. Bem atrás ficam Frederico Duarte Carvalho, do ADN, com 0,8%, e Luís Tinoco Azevedo, do PLS, com 0,4%. O independente António Araújo, cuja candidatura entretanto foi chumbada pela Justiça mas que foi considerada neste estudo de opinião, reúne 0,2% das preferências.
Quando faltava cerca de uma semana para as eleições autárquicas (o trabalho de campo decorreu entre os dias 29 de setembro e 4 de outubro de 2025), o grande ponto de interrogação em torno do sucessor de Rui Moreira na segunda autarquia do país permanecia. Ainda assim, esta última semana poderá ser decisiva no realinhamento de forças, uma vez que a percentagem de indecisos (21,8%) é bastante expressiva. Por outro lado, e tendo em conta que desta vez não há Rui Moreira na equação, há que esperar para entender a forma como cada um dos principais candidatos beneficiará da transferência de votos do movimento independente que, nos últimos 12 anos, governou o Porto.
Bem, mas o que nos aponta esta sondagem nesse particular? Um terço do eleitorado de Rui Moreira vota em Pedro Duarte, enquanto que apenas 20,4% o faz em Manuel Pizarro. De resto, o candidato do PSD/CDS/IL consegue reter mais de metade do seu eleitorado, mas é o que mais perde para o Chega. Circunstância, sublinhe-se, que foi patente na estratégia de campanha de Pedro Duarte, que elegeu a insegurança como um dos temas-chave das suas intervenções, numa aproximação programática às bandeiras do partido de André Ventura. Já o socialista Manuel Pizarro consegue segurar dois terços do seu eleitorado. De que forma esta divisão se vai traduzir na governabilidade da Câmara é uma incógnita, embora estes dados pareçam sugerir que uma aliança à Direita (a tradicional e a radical) possa garantir uma maior estabilidade. Olhando para os resultados das mais recentes eleições legislativas, conclui-se que o PS segura 71,2% dos eleitores, face a 54,8% de Pedro Duarte. O Chega também retém a maioria dos votantes.
Maioria prevê vitória de Pizarro
Mas se o social-democrata Pedro Duarte lidera, ainda que de forma residual, as intenções de voto, a coisa muda de figura quando se pergunta quem é o "candidato mais bem preparado" e aquele que "vai ganhar as eleições", porque nesses casos a primazia recai sobre o socialista Manuel Pizarro, com 33,8% e 38,2% dos votos, respetivamente, contra 25% e 29,8% de Pedro Duarte. Por oposição, o candidato do PSD/CDS/IL destaca-se quando se pergunta quem foi o candidato que "trouxe as melhores propostas durante a campanha": nesse campo, Pedro Duarte leva a melhor (23,2%) sobre Manuel Pizarro (20,2%).
Chega triplica votação mas é líder da rejeição
Quando se comparam os resultados das eleições autárquicas de há quatro anos com a projeção de resultados desta sondagem da Pitagórica, percebe-se melhor a mudança de ecossistema político que se avizinha no Porto. Nem PSD nem PS conseguem alcançar os 40,72% obtidos por Rui Moreira em 2021, ao passo que o Chega, encabeçado por Miguel Côrte-Real, mais do que triplica a votação (obteve 2,99% nas últimas autárquicas), o que, no imediato, deverá significar a presença do partido de André Ventura na vereação. Ainda assim, Côrte-Real é o candidato em relação ao qual os eleitores do Porto se sentem mais afastados (43,5%), ou seja, aquele que concentra a maior taxa de rejeição. Com Pedro Duarte este parâmetro não passa dos 4,3%, ao passo que no caso de Manuel Pizarro o valor é apenas ligeiramente superior (6,9%).
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Esquerda em queda acentuada
Estas comparações permitem-nos concluir outra coisa: a Esquerda à esquerda do PS está na iminência de protagonizar uma derrota pesada, correndo mesmo o risco de desaparecer da vereação, confirmando, de alguma forma, a trajetória descendente herdada das legislativas. Vejamos: se, em 2021, CDU, BE e Livre tinham obtido, em conjunto, 14,24% dos votos, agora, e tendo por base as projeções desta sondagem, não passariam dos 10,1%, ou seja, a mesma votação do Chega. E, curiosamente, a mesma votação agregada dos dois candidatos independentes: Filipe Araújo (7%) e Nuno Cardoso (3,3%). O atual vice-presidente de Rui Moreira pode mesmo vir a ter uma palavra a dizer na gestão da maioria que resultar das eleições de domingo. Se aliado ao PS ou ao PSD, é difícil arriscar, uma vez que, voluntária e involuntariamente, o foram "colando" aos dois partidos durante a campanha.
Na Esquerda à esquerda dos socialistas, o Livre, cuja candidatura é encabeçada por Hélder Sousa, passaria então a ser o partido mais vocal, multiplicando várias vezes a votação de 2021 - de 0,46% para 3,9%. Já CDU e BE dão um enorme trambolhão: os comunistas, representados por Diana Ferreira, passariam de 7,53% para menos de metade (3,3%), o mesmo acontecendo com Sérgio Aires, do BE, que em quatro anos passaria de 6,25% de votação para 2,9%. Ainda assim, e a confirmarem-se estas projeções, os partidos da Esquerda aqui apreciados deixariam de ter presença na vereação.
PSD lidera nos homens, PS nos mais pobres
A sondagem da Pitagórica permite outras leituras: quando se comparam os resultados dos dois principais candidatos à Câmara do Porto nos diferentes segmentos da amostra (género, idade e classe social), é possível concluir que Pedro Duarte destaca-se entre os homens, os mais jovens e as classes mais altas, ao passo que Manuel Pizarro tem maior ascendente eleitoral junto das mulheres, dos eleitores mais velhos e junto das classes mais baixas. De referir ainda que a maior percentagem global de indecisos surge entre as mulheres (24,6%), contra os 18,4% de homens que ainda não sabem em quem vão votar.
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Campanha esclarecedora para um terço
Quando ainda faltam três dias de campanha, a avaliação que os portuenses fazem da eficácia das propostas dos candidatos não é propriamente a mais entusiasmante, ainda que seja positiva. Assim, para 37% dos inquiridos, a campanha tem sido "mais ou menos esclarecedora", ao passo que apenas 27% a qualificam como "esclarecedora", sobretudo os que se encaixam na faixa etária entre os 25 e os 34 anos e nas classes mais altas. Já 14% acham que "não tem sido esclarecedora", a maioria dos quais situando-se na faixa etária entre os 35 e o 54 anos e entre as chamadas classes mais baixas.
Rui Moreira com nota positiva
A sondagem da Pitagórica decidiu ainda levar a Câmara do Porto a exame. E a autarquia ainda liderada por Rui Moreira passou no teste, com uma média de 12,2 numa escala de 0 a 20. Um em cada cinco portuenses dá uma nota alta ao trabalho do município, enquanto 22% reprovam a atuação camarária. Mas quem são os maiores "fãs" de Rui Moreira? Mulheres jovens, entre os 25 e os 34 anos, católicas, votantes no autarca independente e pertencentes às classes mais altas. Por oposição, e sem surpresa, os menos encantados com Rui Moreira são os homens, mais velhos, de classes sociais mais baixas e que votam tradicionalmente no PS.
Ficha Técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN, Nascer do Sol e ECO com o objetivo de avaliar a opinião dos eleitores recenseados no concelho do Porto sobre temas relacionados com as eleições autárquicas 2025. O trabalho de campo decorreu entre os dias 29 de setembro e 4 de outubro de 2025.
A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados no concelho do Porto e foi devidamente estratificada por género, idade e freguesia. Foram realizadas 1229 tentativas de contacto, para alcançarmos 625 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 50,85%. As 625 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/-4,00% para um nível de confiança de 95,5%.
A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional.
A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC-Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.