Sondagem: Empate em Sintra sinaliza crescimento autárquico do Chega
Texto de Pedro Araújo e gráficos de Inês Moura Pinto
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"[Sintra] daria um bom paraíso no caso de Deus fazer outra tentativa!". A frase é de José Saramago, no livro "Memorial do Convento". Ora, segundo a sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, a pouco mais de duas semanas das eleições autárquicas, há um empate entre os três principais candidatos, isto é, o paraíso está ao alcance de qualquer um deles. No entanto, Marco Almeida (PSD/IL/PAN) lidera com 32,1% das intenções de voto, contra 30,3% da coligação PS/Livre, encabeçada por Ana Mendes Godinho, ex-ministra socialista, e 24,5% do Chega, que apostou todas as fichas em Rita Matias, um dos rostos mais jovens e populares do segundo maior partido no Parlamento nacional.
Independentemente de Rita Matias conquistar a Câmara ou "apenas" lograr a "medalha de prata" ou "de bronze" no segundo concelho mais populoso do país, a verdade é que a sondagem parece já garantir, no mínimo, uma duplicação do "score" obtido pelo Chega em 2021 (9,09%). O que sucede agora é bem diferente. Rita Matias, fiel seguidora de André Ventura, pode ter entre 20,03% e 28,97%. Este intervalo permite especular sobre vários cenários, até porque Marco Almeida, que construiu uma aliança extra-AD (em vez de ir buscar o CDS, como sucede no Governo, juntou-se com a IL e o PAN), pode obter um resultado nas urnas entre os 27,63% (abaixo do melhor "score" projetado para o Chega) e 36,57%.
A sondagem é inequívoca num aspeto: a margem de erro é de aproximadamente 4,47%. Conclusão: Marco Almeida e Ana Mendes Godinho estão claramente em empate técnico (diferença menor que a margem de erro). Rita Matias está mais distante do primeiro lugar e muito próxima da segunda posição, ocupada pelo PS. Os indecisos não são poucos: 24%, valor superior ao registado, por exemplo, em Gaia.
A impossibilidade de replicar o bloco AD num concelho com o peso de Sintra pode jogar a favor dos adversários de Marco Almeida. Os responsáveis locais do CDS consideram-no corresponsável pela "estagnação" do concelho, até pelo facto de ter feito parte dos executivos liderados pelo social-democrata Fernando Seara (2002-2013), na qualidade de seu vice-presidente. Adicionalmente, em mais de metade dos concelhos do país, os centristas concorrem coligados com o parceiro de Governo, o que causa especial azia a um partido que tem tentado renascer das cinzas através da sua colagem política ao PSD. Há mesmo democratas-cristãos a denunciar que a junção do PAN e IL com os sociais-democratas foi realizada "às escondidas".
Bastião socialista sob ataque
Sintra é igualmente importante para o PS, uma vez que tem sido um dos seus bastiões desde 2013, altura em que Basílio Horta, um histórico do CDS que fez uma aproximação acelerada aos socialistas, conquistou a autarquia, derrotando precisamente Marco Almeida, que entrara na corrida como independente, uma vez que estava de candeias às avessas com o PSD de Pedro Passos Coelho.
Ana Mendes Godinho é a aposta socialista para segurar uma Câmara decisiva para confirmar a eficácia eleitoral do líder José Luís Carneiro, agora secretário-geral do terceiro maior partido na Assembleia da República. Foi secretária de Estado do Turismo (2015-2019) e ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (2019-2024). Um currículo de peso que poderá, sem dúvida, valer muitos votos, desde que saiba capitalizar o que de positivo foi feito nos mandatos de Basílio Horta e até da mais longínqua autarca socialista Edite Estrela (1994-2002). A missão não é impossível, até porque nesta autarquia o PS traz um reforço que não é menosprezável na conquista dos eleitores jovens: o Livre, partido ecologista de Esquerda com bons resultados a nível nacional nas últimas legislativas. A candidata é particularmente bem acolhida entre os eleitores mais velhos e pelas classes médias.
Marco Almeida, apesar das contrariedades de cariz político, apresenta maior vantagem entre a faixa etária dos 25-34 anos e nas classes de rendimento elevado. Na avaliação dos candidatos, os inquiridos consideram Marco Almeida como sendo o mais bem preparado (35,2%), seguido por Ana Mendes Godinho (19%) e por Rita Matias (9,2%). Quando se pergunta "quem acha que vai ganhar?", a ordem mantém-se, com 28%, 20% e 14%, respetivamente.
Curiosidades
CDU em queda
A CDU (PCP-PEV), que tem como rosto Pedro Ventura, desce mais um degrau. Em 2021, somou 9,02%. Hoje, a sondagem da Pitagórica aponta para 5,5%, com distribuição de indecisos. O eleitorado urbano cortou amarras, e o voto útil à Esquerda transformou-se num íman que puxa para o PS? A resposta será dada no dia 12 de outubro.
BE segue exemplo
Em 2021, O BE obteve 5,81%. Agora, a sondagem aponta para 2,1%. Tânia Russo é deputada municipal e médica, morando em Massamá. A confirmar-se nas urnas a projeção, o balanço será negativo.
CDS muda aliança
À Direita, a história escreve-se com tinta diluída. O CDS, que em 2021 integrou um "caldeirão" onde estavam o PSD, PPM, MPT, PDR e RIR (27,53% foi o resultado conjunto), surge agora num arranjo político com o PPM e o ADN. O resultado esperado é de 1,6%, não passando, no melhor dos cenários, de 2,7%.
Opinião negativa
A diferença entre quem recomenda e quem critica a qualidade de vida no concelho é negativa (-4). Resulta da subtração dos detratores à percentagem de promotores do município. Os moradores mostram-se insatisfeitos.
Ficha Técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN com o objetivo de avaliar a opinião dos eleitores recenseados no concelho de Sintra sobre temas relacionados com o município. O trabalho de campo decorreu entre os dias 13 e 18 de setembro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados no concelho de Sintra e foi devidamente estratificada por género, idade e freguesia. Foram realizadas 955 tentativas de contacto, para alcançarmos 500 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 52,36%. As 500 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 4,47% para um nível de confiança de 95,5%. A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.