Insistindo na "impossibilidade" de operar o canal de metrobus no Porto sem os novos veículos encomendados pela Metro, a STCP diz apenas ser possível utilizar o corredor central na Avenida da Boavista pela linha 203. Alerta, contudo, precisar de realizar testes prévios para avançar com essa solução, que será provisória.
Corpo do artigo
Está concluída, desde o dia 23 de agosto, a construção do canal exclusivo para a circulação do metrobus no Porto, entre as avenidas da Boavista e do Marechal Gomes da Costa. Mas os veículos próprios ainda demoram a chegar. Por isso, e para aproveitar a infraestrutura já pronta, a STCP propõe utilizar o corredor central segregado da Avenida da Boavista no trajeto da linha 203. Essa será, de acordo com a administradora Cristina Pimentel, "a única solução possível", já que as estações construídas para o metrobus na Avenida do Marechal Gomes da Costa estão à esquerda e os autocarros da operadora exclusiva do Porto só dispõem de portas à direita.
Documento para entregar gestão e operação à STCP validado pela Metro
Foi validado pela Metro e encaminhado à Câmara do Porto, no passado dia 12 de agosto, o memorando de entendimento que entrega à STCP a gestão e operação do canal de metrobus entre a Casa da Música e a Praça do Império. Numa carta endereçada ao autarca portuense Rui Moreira, o presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga, adiantou até que "os testes operacionais" naquele troço "previstos e combinados com a STCP", estavam prontos a ser iniciados no dia 14 de agosto. Em anexo, seguiu o próprio memorando, ao qual o JN teve acesso.
Num dos artigos desse documento, lê-se que o contrato de serviço público a celebrar entre o Município do Porto, enquanto autoridade de transporte, e a STCP para operar o canal "deverá ser outorgado até à data da primeira receção provisória da empreitada (...), de maneira a que o sistema possa entrar, de imediato, em exploração pela STCP, com os meios disponíveis a essa data".
Foi precisamente sobre esse artigo que Rui Moreira endereçou, depois, uma nova missiva, desta vez à presidente do Conselho de Administração da STCP, Cristina Pimentel. "É indispensável que a STCP clarifique, de forma detalhada e inequívoca, a sua capacidade operacional para cumprir integralmente com os requisitos estipulados, nomeadamente no que respeita à disponibilização dos meios técnicos e humanos necessários para assegurar a exploração eficaz do sistema".
"Única solução possível" para a STCP é linha 203 utilizar via central na Avenida da Boavista
Três dias mais tarde, na passada quinta-feira, Cristina Pimentel envia uma resposta ao autarca. Insistindo na "impossibilidade de se operar as novas linhas de metrobus sem os novos veículos encomendados pela Metro do Porto para o efeito", a presidente do Conselho de Administração da STCP afirma que "uma solução 'provisória', com os recursos disponíveis à data, incapaz de oferecer as verdadeiras características de uma operação do tipo metrobus subjacentes ao investimento realizado afigura-se como uma solução que apenas irá contribuir para a desacreditação do novo sistema, do transporte público rodoviário em geral e do serviço prestado pela STCP em particular".
Contudo, com a obra de construção do canal pronta, a administradora admite que, para a transportadora, a "única solução possível, até que o sistema de metrobus possa entrar efetivamente, na sua plenitude, em operação", é a linha 203 utilizar o troço da Avenida da Boavista, aproveitando "um corredor segregado e exclusivo para o transporte público". Recorde-se que, na Avenida do Marechal Gomes da Costa, as estações estão ao centro, obrigando a que os veículos que por lá circulem tenham também portas do lado esquerdo, o que não acontece com os autocarros da STCP, cujas portas estão à direita.
Apesar de a STCP ter quatro linhas (201, 203, 502 e 2M) "que ao longo do seu percurso fazem o trajeto da Avenida da Boavista, entre o cruzamento da Avenida do Marechal Gomes da Costa e a Rotunda da Boavista", a 203 é considerada pela empresa "a mais adequada para poder utilizar o corredor central da Avenida da Boavista, a partir da Marechal Gomes da Costa até à Casa da Música/Rotunda da Boavista".
Entre as vantagens dessa solução provisória, está "o aproveitamento do potencial aumento de velocidade comercial que se perspetiva pelo facto de passar a dispor, no troço em causa, de um canal dedicado e exclusivo, com prioridade semafórica". As desvantagens, por outro lado, são a eliminação de duas paragens na viagem de ida: António Cardoso e Foco. E também a perda de três paragens no regresso: Marechal Gomes da Costa, Foco e António Cardoso.
A STCP avisa, contudo, que precisa de realizar previamente "testes de inserção dos seus veículos através do corredor da Avenida da Boavista, no canal dedicado e segregado".
Moreira apela a que "não se tente iludir a realidade"
Esta quarta-feira, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, remeteu a sugestão da STCP à Metro do Porto. O autarca faz, em primeiro lugar, uma chamada de atenção à empresa, notando que o memorando em causa permanece na posse da Metro "há mais de um ano, sem que tenha sido assinado ou alterado o ponto" referente à exploração imediata do canal pela STCP após a conclusão da empreitada.
De qualquer modo, Moreira reconhece que os "constrangimentos ao nível da contratação pública impediram a sincronização do cronograma das várias fases do projeto de metrobus em desenvolvimento pela Metro do Porto". Em causa está o lançamento de um primeiro concurso para aquisição dos autocarros a hidrogénio. Esse procedimento ficou deserto, tendo sido necessário lançar um segundo. A Metro já anunciou estar a tentar antecipar a entrega dos primeiros veículos a hidrogénio (com portas dos dois lados) para o último trimestre deste ano.
O autarca portuense apresenta à empresa a solução proposta pela STCP, salvaguardando a necessidade da realização de ensaios técnicos, mas assumindo ser "do interesse de todos encontrar uma solução que possa, ainda que parcialmente, mitigar os constrangimentos verificados".
"Como sempre sucede com projetos inovadores, persiste alguma desconfiança da população relativamente a este novo modo de transporte. Acredito, tal como Vossa Excelência, que o início da operação dissipará dúvidas e incertezas. Mas, para isso, é fundamental que não se tente iludir a realidade, persistindo sempre num discurso que, seguramente, só conviria aos detratores do projeto. Qualquer que seja a forma de mitigação, por parte da STCP, do problema causado pela inexistência de veículos, é crucial que se esclareça a população que esta solução é temporária e não configura uma operação de metrobus", conclui Rui Moreira.