Steam Power de Vila do Conde cria biocombustível a partir de resíduos agrícolas
A ideia é simples: transformar lixo agrícola em energia “verde”. Caldeiras alimentadas a casca de palma, caroço de açaí (na calha), casca de amêndoa e caroço de azeitona (em estudo). A Steam Power, de Vila do Conde, não pára de crescer. Secil, Lactogal, Corticeira Amorim, Lameirinho ou J.F. Almeida são clientes.
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A Steam Power não pára de crescer. Este ano, duplicou as vendas e, em 2025, vai triplicar. Da empresa sai um produto mais barato, com mais poder calorífico, fumos incolores, nulo em emissões de CO2 e sem cortar uma única árvore.
Acreditamos muito na economia circular. Os agro-resíduos são o expoente máximo disso mesmo. Têm uma pegada de CO2 muito reduzida. Basicamente é o transporte”, explicou, ao JN, Tiago Andrade, que, há um ano, comprou a Steam Power.
Da fábrica, em Mosteiró, Vila do Conde, saem todos os meses 240 camiões de biocombustível, numa produção diária que ascende às 80 toneladas.
Para trás ficam 11 anos de investigação, num projeto que começou pela mão de Paulo Silva. O gás natural tinha custos cada vez mais altos. A legislação apertava. Decidiu estudar alternativas. Queria um produto “limpo, com melhor rendimento e baixas emissões”.
Neste momento, o PKS (Palm Kernel Shell) domina a produção. Vem da Nigéria e da Indonésia, onde seria lixo amontoado, depois da extração da semente dá origem ao óleo de palma, o “azeite” de toda a Euroásia.
Depois, é filtrado para retirar pedras e outras impurezas e seco a temperaturas entre os 100 e os 130 graus. Finalmente, uma peneira livra-o das últimas impurezas e o PKS está pronto para alimentar caldeiras e ser alternativa à madeira e ao gás.
“Pioneiro no Mundo”
A Steam Power é “a única empresa no país e na Europa que utiliza este processo com a casca de palma certificada”. Em 2023, fechou o ano com um volume de negócios de 6,8 milhões de euros. Este ano, ultrapassou os 16 milhões. Em 2025, deverá atingir os 40 milhões.
Tudo graças a um “novo e muito promissor” produto: o caroço de açaí. “É um dos cinco superalimentos com um consumo cada vez maior”, explica Tiago Andrade. O Brasil produz 96% do açaí mundial e o caroço, atirado ao leito dos rios, é um problema. A Steam Power já garantiu 300 mil toneladas/ano. Investigou, testou e tem um plano.
“A parte da fibra [que envolve o caroço] pode ser reaproveitada para a indústria dos bioplásticos e para a indústria ligada à trufa negra. Depois, o caroço limpo é extraordinamente interessante em termos de valorização energética”, contou o dono da Steam Power, que espera ser “pioneiro” a transformar o caroço de açaí em biocombustível. Para isso, está a concluir um tanque de lavagem e, em 2025, prevê investir 17 milhões de euros em novas instalações e aumentar a produção para 200 toneladas/dia. Uma cimenteira e uma central elétrica nas Astúrias são o primeiro passo da internacionalização.
A empresa foi fundada em 2013, tem sede na Rua de Vila Verde, em Mosteiró, Vila do Conde, e o futuro passa por comercializar caroço de açaí limpo e continuar a investigação em novos produtos, sendo a casca de amêndoa e o caroço de azeitona apenas dois exemplos.