São já 12 as candidaturas garantidas à Câmara do Porto: nove foram anunciadas, três serão públicas ainda este mês.
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Nunca houve tantos candidatos na corrida à Câmara do Porto. Nove já foram anunciados e estão no terreno. Mas há pelo menos mais três partidos que vão avançar com um nome até ao final do mês. "É um caso atípico", considera o especialista em Ciência Política José Palmeira. É que, além de serem já garantidos 12 candidatos à sucessão de Rui Moreira, nunca avançaram tantos independentes. O cenário faz prever uma luta renhida e uma bipolarização dos votos no socialista Manuel Pizarro e na aposta da coligação PSD/CDS, Pedro Duarte.
Há quatro anos, concorreram 11 listas à Câmara do Porto. Tinha sido, então, o número mais elevado de sempre, superando as autárquicas de 2013 e 2005 em que avançaram nove candidatos. Para as eleições de setembro/outubro deste ano, nove já foram anunciados. Cinco são de partidos: Manuel Pizarro (PS), Pedro Duarte (PSD/CDS), Diana Ferreira (CDU), Sérgio Aires (BE) e Aníbal Pinto (Nova Direita), que deverá apresentar a sua candidatura hoje.
Os restantes quatro são independentes: Filipe Araújo, o vice-presidente da Câmara do Porto que avança pelo movimento "Filipe Araújo, Fazer à Porto"; Nuno Cardoso, o ex-presidente da Câmara do Porto que tem o apoio do movimento "O Porto Primeiro"; o médico António Araújo, fundador do movimento cívico "Porto com Porto"; e Vitorino Silva (conhecido como Tino de Rans), que promete levar o "Porto a Bom Porto".
Falta ainda saber quais serão as apostas do PAN, do Livre e do Chega que, segundo anteciparam, ao JN, vão anunciar os seus candidatos até ao final do mês, sendo que no partido de André Ventura é quase garantida a aposta em Miguel Côrte-Real (ex-PSD).
"Um caso atípico"
"O Porto é um caso atípico. São muitos candidatos e o número elevado de independentes vai baralhar. Vai ser um caso muito interessante e muito provavelmente a eleição mais mediática das autárquicas. Vai concentrar as atenções na noite eleitoral", crê José Palmeira, professor da Universidade do Minho.
Com 12 candidatos já garantidos, prevê-se uma eleição muito renhida no Porto. "Em princípio, ninguém conseguirá ter sozinho maioria. Terá sempre que se negociar depois com os outros candidatos", prevê José Palmeira, considerando que essa situação pode levar a uma bipolarização dos votos, penalizando sobretudo os candidatos independentes. "Se as pessoas virem que os independentes têm poucas probabilidades de ganhar as eleições vão concentrar os votos naqueles que têm mais condições, que são Manuel Pizarro e Pedro Duarte. As sondagens vão ser muito relevantes nesse sentido", antecipa o politólogo.
"Nesse âmbito, vai ser também interessante ver como as pessoas se vão posicionar face ao facto de Manuel Pizarro ser um repetente e Pedro Duarte nunca ter concorrido", acrescenta José Palmeira.
Para o docente, também será curioso perceber quem ganhará mais com a candidatura independente do atual vice-presidente da Câmara do Porto: PS ou PSD/CDS. "É a grande incógnita", refere, explicando que a tendência será, contudo, que Filipe Araújo seja mais prejudicial para o centro-direita. Daí a aposta numa plataforma alargada, que já levou o CDS e, agora, a Iniciativa Liberal a aliar-se ao PSD.
Descontentamento
A equidistância já anunciada pelo presidente da câmara, Rui Moreira, pode atenuar, porém, o peso do movimento de Filipe Araújo. "Se, apesar disso, Rui Moreira der sinais de que pode estar mais alinhado com Pedro Duarte, isso pode favorecer a coligação PSD/CDS e penalizar o PS, ao diminuir a divisão de votos no centro-direita", explica José Palmeira.
Segundo o especialista, no dia das eleições irá pesar outro fator: a existência ou não de descontentamento com o Governo. "Há sempre quem ache relevante ter uma autarquia alinhada com o Governo e se, não existirem motivos de descontentamento, vota no partido que o sustenta. Não é possível calcular o peso da situação nacional em autárquicas. Mas no Porto e Lisboa tem sempre algum peso", refere.
Campanha deverá andar à volta de três temas
São três os temas que prometem dominar a campanha no Porto: segurança, mobilidade e habitação. Os três mereceram destaque na apresentação da candidatura do socialista Manuel Pizarro, que prometeu cinco mil casas com renda acessível e mais mobilidade com menos circulação automóvel, além da intensificação da presença das forças policiais nas ruas. Também o social-democrata Pedro Duarte, ao anunciar a candidatura, falou numa "criminalidade inaceitável", num "trânsito intolerável" e em "preços incomportáveis" das habitações. O independente António Araújo, por exemplo, defendeu um túnel rodoviário no Douro.
Pormenores
Marcação
Ainda não há data para as eleições autárquicas. Segundo a Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais, têm de ser marcadas pelo Governo, através de decreto, entre 22 de setembro e 14 de outubro. O decreto deverá ser publicado com 80 dias de antecedência.
Domingo ou feriado
O dia das eleições autárquicas tem de ser o mesmo em todos os círculos e "recai em domingo ou feriado nacional".
Resultados em 2021
Nas eleições de 2021, Rui Moreira conquistou o terceiro e último mandato com 40,72% dos votos, elegendo seis vereadores. O PS ficou em segundo lugar, com 18% e três vereadores, seguindo-se o PSD com 17,24% e dois eleitos, a CDU com 7,53% e um vereador e o BE com 6,25% e um eleito.