A febre dos supermercados chegou ao Porto. Nunca tantas superfícies comerciais das mais conhecidas cadeias estiveram com abertura prevista para os próximos meses no centro da cidade.
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Edifícios antigos, devolutos ou em ruínas, tudo serve para a instalação de novas lojas que chegam mais devido à forte presença de turistas do que à procura pelos locais. A Associação dos Comerciantes do Porto mostra-se preocupada com o futuro das lojas tradicionais e diz que devia ter uma palavra nestes licenciamentos.
O turismo está claramente na base deste interesse súbito dos empresários de comércio retalhista que investem de acordo com os estudos de mercado que realizam, ao ponto dos agentes turísticos incluírem já nos seus pacotes de ofertas a dica de que, além das diversas opções de bons restaurantes, é possível ir até o supermercado mais próximo do alojamento e comprar bons vinhos por apenas dois euros, bebidas brancas, queijos, azeitonas, além de gostosos pães portugueses.
Filas cada vez maiores
"É preocupante porque o pequeno comércio não pode competir com estas campanhas de marketing e de visibilidade tão fortes", refere Joel Azevedo, presidente da Associação dos Comerciantes do Porto. Uma das consequências da grande procura turística no Porto são as filas cada vez maiores em supermercados. Por isso, abrem cada vez mais. Um pouco por toda a cidade, mas com mais destaque na zona da Baixa as obras são visíveis. Só para o Campo 24 de Agosto, zona que conta já com um Pingo Doce e um Lidl, está prevista a construção de um Continente, na antiga zona de estacionamento em terra batida, e do primeiro súper da cadeia espanhola Mercadona, no esqueleto do inacabado edifício onde foi assassinada a transexual Gisberta.
"Acho que este investimento é feito a pensar nos turistas e não nos residentes que são cada vez menos devido às rendas e as despejos que vão sendo praticados", salienta Adília Neves, residente no local.
Também a cadeia alemã Lidl, que já está presente na Avenida Camilo, abrirá novo espaço a pouco mais de mil metros, na Avenida Fernão Magalhães, no edifício da antiga oficina da Gamobar. Os pequenos comerciantes desta zona não temem a concorrência, mas Joel Azevedo fala em descaracterização da cidade para além da concorrência desleal. "A associação devia ser chamada a pronunciar-se e a ter uma palavra na atribuição de licenças. O comércio tradicional deve ser salvaguardado, já que é ele que chama os turistas", diz Joel Azevedo.