Motoristas reclamam melhores condições. Luta antiga continua sem resposta capaz. Câmara revela que tem projeto para reabilitar as 70 praças da cidade.
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Ou contam com a compreensão e boa vontade de comerciantes e lojistas ou fazem as necessidades onde calha: nos jardins, em canteiros, atrás de árvores. Os taxistas do Porto reclamam melhores condições de trabalho e posturas dignas. A ANTRAL acompanha o protesto, mas diz que a Câmara do Porto "tem-se mostrado pouco sensível".
Questionada pelo JN, a Autarquia revelou que, após um diagnóstico, vai reabilitar as 70 praças de táxi da cidade. O objetivo é "melhorar o conforto, a acessibilidade e a segurança para taxistas e passageiros", dotando as posturas de nova identificação, mais informação (inclusive digital), melhor iluminação, melhores condições de acesso pedonal e, em alguns casos, casas de banho de apoio. "A Praça Modelo será oportunamente apresentada aos taxistas", acrescenta a Câmara, sem adiantar datas para o projeto avançar.
"Pouco digno"
Enquanto isso, as queixas mantêm-se. "Não podemos abandonar a postura enquanto estamos ao serviço, mas temos as nossas necessidades e de ir a uma casa de banho. Ou vamos a um café e consumimos para poder ir ao WC ou fazemos em jardins e locais ermos, o que não é nada higiénico e digno", refere José Machado, que encabeça o protesto assumido por dezenas de profissionais.
"Esta já é uma luta antiga, mas os taxistas, apesar de prestarem um serviço importante aos cidadãos, continuam a não ter qualquer apoio por parte da Autarquia. O presidente da Câmara ainda fez melhor: autorizou 13 mil veículos TVDE na cidade", acrescenta, revoltado, João Neves. "A concorrência é forte e situações destas, de termos de urinar nos jardins ou atrás de árvores, é pouco abonatória para o nosso setor", reforça José Machado.
Durante o dia, os motoristas utilizam os cafés, onde têm de consumir para ir à casa de banho, ou contam com a boa vontade da gerência dos supermercados. "À noite é bem pior, porque está tudo fechado. Ainda há dias, um colega foi surpreendido no jardim do Campo de 24 de Agosto por uma senhora que andava a passear o cão. São situações lamentáveis", observa José Machado.
Casas de banho amovíveis junto das posturas existem apenas duas. Uma na Praça de Francisco Sá Carneiro e outra na Praça do Infante. "Mas isso obriga-nos a gastar dinheiro. Pelo menos a Câmara do Porto fazia como em Lisboa, onde os taxistas e motoristas de pesados de passageiros não pagam por usar esses WC", defende Vítor Cruz, que chegou a propor isso à Autarquia no tempo em que os motoristas se uniram na Associação de Defesa e Segurança dos Motoristas de Táxi do Porto, entretanto extinta.
modelo falhado
Foi em 2005 e após muitas reclamações que a Câmara de Lisboa instalou as primeiras casas de banho exclusivas para os motoristas de táxi, mas a medida fracassou. "O modelo utilizado não correu bem, porque acabaram por ser locais abertos a todos e a marginalidade tomou conta dos espaços, com sujidade e seringas por todo o lado", explicou, ao JN, Florêncio Almeida, presidente da ANTRAL, a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros.
Por isso, a situação do Porto é igual à de Lisboa mas, apesar de a relação ser "cordial" com ambas as autarquias, a verdade é que após "anos e anos de alerta para esta situação", a associação ainda não conseguiu chegar a uma solução. "O que temos proposto às câmaras é uma parceria entre todas as partes envolvidas para a criação de posturas modernas onde seja colocada uma cabina telefónica para receber pedidos de serviço e também WC, só usados pelos motoristas de transporte de passageiros com chave", disse o líder da ANTRAL.
Bancos para clientes
Florêncio Almeida diz que os contactos com a Câmara do Porto são frequentes. "Mostram-se sempre sensíveis, mas depois quando a medida implica investimento a resposta acaba por ser contrária às nossas expectativas", lamenta.
No Porto, os taxistas defendem ainda a criação de abrigos nas posturas, com bancos onde os clientes possam esperar de forma confortável pelo motorista.