Festival Lua Cheia -Arte na Aldeia da Peripécia quer democratizar o acesso a teatro, cinema, fotografia e poesia.
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Maria da Conceição Sousa nasceu, criou-se e fez vida dura em Benagouro, pequena aldeia de Vila Real. Com a terceira classe antiga, nunca antes o interesse a guiou a uma plateia de onde pudesse apreciar, por exemplo, uma peça de teatro. Esta semana, já com 79 anos feitos, lá teve a sua oportunidade.
É com um sorriso na cara que Maria da Conceição confessa que "nunca tinha visto teatro ao vivo". Mas também só foi ver "porque está aqui". Porque a Peripécia Teatro lhe levou a peça quase à porta de casa. "Se estivesse noutra aldeia ou cidade não iria, já que não tenho transporte".
Desde que a companhia promove o festival Lua Cheia - Arte na Aldeia muitos houve a admitir o mesmo. E não serão os últimos. Afinal, um dos objetivos de projeto, apoiado pela Direção-Geral das Artes, é "democratizar o acesso às artes", salienta o codiretor artístico da Peripécia, Sérgio Agostinho. No fundo, levar espetáculos de teatro, cinema, fotografia e poesia a "uma franja da população que habitualmente está impedida por razões geográficas" ou que "tradicionalmente está afastada dos espaços de fruição artística".
Sede em escola primária
Foi com este intuito que criou o festival Lua Cheia - Arte da Aldeia, em 2014, em Coêdo. É uma pequena aldeia de Vila Real de cuja antiga escola primária a companhia fez sede e não muito distante de Benagouro. É nesta última que agora tem o Centro Recreativo e Cultural - um espaço onde um espetáculo pode ser preparado, ensaiado com cenário, adereços e iluminação, e depois passá-lo dali para uma sala de espetáculos. Coisa que a escola/sede em Coêdo não permite.
Maria da Conceição não queria ir sozinha à sua estreia numa plateia. E então convenceu a neta, de 21 anos. Maria Fonte ainda hesitou, mas depois lá percebeu que o pedido era importante. Porque se a avó vivesse na cidade de Vila Real, "sempre teria acesso a um cinema, a um teatro ou a um restaurante". Em Benagouro, "ir ao café já é bom".
Claro que se uns se estreiam outros acrescentam bilhetes a uma vida com muitos espetáculos. Como Diolídia Borges. Aos 81 anos, muitos deles passados em Lisboa, ver teatro não é novo. Mas vê-lo na sua aldeia natal é. E por isso rotulou de "uma vitória" poder assistir a um festival que termina no domingo. "Estamos a 10 quilómetros de Vila Real, muitas vezes, à noite, não nos dá jeito ir para lá e vir para cá, e perdem-se muitas coisas", concluiu.
Bilhetes podem ser comprados a 5 euros em bol.pt. Restam muito poucos lugares.