Maria Dália dos Santos, de 77 anos, viúva, residente em Granjinha, freguesia de Sever, deve a uma vizinha o fim da escuridão em que passou dois terços da vida. A luz entrou-lhe em casa. Deixou de ser sonho. Falta requalificar a habitação onde chove como na rua.
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Do fundo de uma gaveta da mesa da cozinha, Maria Dália Santos retira o saco em plástico onde guarda uma mão cheia de velas brancas, ainda por estrear, que deixaram de ser precisas com a chegada da luz eléctrica. Um sonho que concretizou aos 77 anos - fará 78 no dia 24 deste mês -, graças à generosidade de uma vizinha: Benvinda Lopes da Silva Mendes. Uma "alma caridosa" que acedeu em estender a luz da sua casa à dela, sem lhe cobrar um cêntimo por isso. "Segui as ordens do meu coração e fiz o que gostaria que me fizessem a mim", justifica a mulher.
Maria Dália Santos diz que é "milagre" o que está a acontecer-lhe. "A minha vida nesta casa foi sempre às escuras. Mesmo quando o meu homem era vivo. Depois que ele morreu, já lá vão 21 anos, tornou-se ainda mais difícil fazer tudo sozinha e à luz das velas e da candeia a petróleo", recorda.
A ligação da luz eléctrica feita por técnicos municipais, há cerca de duas semanas, trouxe consigo duas vantagens imediatas à idosa: deitar-se e levantar-se sem ter de andar à procura dos fósforos para acender as velas ou o candeeiro a petróleo, e ter um televisor para ajudar a passar alguns momentos do dia.
"Quando está o tempo bom, não paro em casa. Mas sempre que chove, e fico impedida de ir para as terras, entretenho-me a ver os programas", diz comovida a septuagenária, apontando o televisor que pertenceu ao cunhado, já falecido, e que passou a utilizar depois de um ligeiro arranjo.
A vida de Maria Dália dos Santos não tem sido fácil. "Passei mais de 30 anos a correr para os hospitais", lembra a mulher, que perdeu à nascença o que seria o seu único filho, enquanto enumera um rol de doenças que a apoquentam. E lhe levam em remédios a quase totalidade da pequena reforma.
Casa protegida com plásticos
A casa onde Dália Santos vive, há mais de 50 anos, pertence a um cunhado. É um espaço pequeno, com menos de 20 metros quadrados, mas que revela todo o cuidado e brio de quem lá mora, apesar de o fumo da lareira, ao fundo da cozinha, lhe pintar tudo de negro.
A habitação não tem água nem casa de banho. As necessidades são feitas num balde e atiradas para o quintal. Mas o problema maior, são as infiltrações da água da chuva que entra pelos buracos do telhado e das paredes, apesar dos plásticos que forram todo o interior.
"Quando a chuva é mais forte, os plásticos não servem para nada. A água entra na mesma", lamenta Dália, enquanto mostra a cama ensopada em água.
Benvinda Mendes concorda: "a casa não tem condições. Deixa entrar o frio, a chuva... A luz eléctrica, por si só, não faz tudo". É por isso que se mostra disponível para mobilizar os conterrâneos para uma intervenção. "Sever já provou que sabe ser solidária, quando andou a abrir caminhos. Estou certa que não virarão as costas."