<p>Dezenas de famílias da Marinha, da Ribeira e da Tijosa, em Ovar, temem que a subida das águas da ria lhes destrua por completo os terrenos agrícolas e, pior, ponha mesmo em risco as casas onde vivem há décadas. O mau tempo de há uma semana serviu de alerta.</p>
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Encurralados entre dois canais da ria de Aveiro e com o mar a dois passos, os moradores da Marinha têm vivido os últimos tempos com o coração nas mãos. O mau tempo de há uma semana, associado à forte ondulação do mar, fez com que grandes quantidades de água salgada penetrassem nos canais, inundando tudo quanto era campo agrícola e chegando às casas. Algumas ficaram isoladas.
Uma semana passou e a água continua nos campos e lá ficará por um mês ou mais, asseguram os agricultores. "Quando daqui sair, o sal vai queimar tudo o que resta das pastagens", lamentou Maria Ascenção Gonçalves, moradora na Marinha.
O que sucedeu, porém, não foi apenas resultado do Inverno rigoroso. No Verão, quando os campos estavam a produzir milho, as marés vivas fizeram o mesmo. O prejuízo, então, foi imenso.
"A zona, além de estar praticamente rodeada por água dos canais, tem também a particularidade de estar a um nível mais baixo do que o mar, logo, os terrenos são facilmente inundados", esclareceu António Valente, responsável por uma vacaria. "Só aqui na Marinha são à vontade 50 famílias que, de repente, podem ficar sem nada, sem terrenos para cultivar e donde tirar o seu sustento e mesmo sem as próprias casas onde vivem", fez notar.
Adelino Silva, da Associação de Lavoura do Distrito de Aveiro, explicou ao JN que os agricultores, não só da Marinha, mas também da Ribeira e da Tijosa, há muito que reclamam por obras de defesa dos terrenos. Tal poderia ser feito, explicou, com a criação de "motas", uma espécie de muralhas de protecção feitas de terra, pedras e lodos, resultantes da dragagem dos canais.
Mas António Valente vai mais longe e diz que é preciso proteger toda a área do mar, que avança a olhos vistos na zona a sul do Furadouro, no Torrão do Lameiro. "Basta o mar conseguir galgar as dunas e depressa chega aqui. Se isso acontecer, será mesmo o fim", explicou o agricultor.
Questionado sobre o assunto, o vice-presidente da Câmara de Ovar, Vítor Ferreira, disse ao JN que os serviços da Autarquia estão a fazer um levantamento de todos os casos e que será entregue um relatório à Administração da Região Hidrográfica do Centro, que se diz disposta a dialogara para avançar com soluções.
