Fernanda Monteiro receia ficar sem teto, depois do senhorio anunciar que não vai renovar o contrato de arrendamento. Com ela, vive o enteado, Nuno Santos, que tem um aneurisma e é incapacitado. Caso está a ser acompanhado pelo Município
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Viúva, desempregada e com um familiar doente. Fernanda Monteiro, 57 anos, tem até setembro para arranjar um novo sítio para morar, depois de o senhorio informar que não vai renovar o contrato de arrendamento da habitação onde mora com o enteado, em Gaia. Até aqui, pagou 500 euros de renda, e pouco sobrava para as restantes despesas. Agora, tem medo de não conseguir suportar os valores pedidos por uma casa e ficar sem teto, juntamente com o enteado dependente, Nuno Santos, 42 anos. O caso está a ser acompanhados pelos serviços sociais da Câmara de Gaia.
Em 2020, Fernanda foi surpreendida pelo despejo da casa onde vivia há 12 anos, em Santo Ovídio. O receio de ficar sem teto passou a tomar conta do seu dia a dia. Mas quando se mudou para a casa atual, teve esperança que a situação melhorasse. Porém, o senhorio, ao contrário do esperado, decidiu não renovar o contrato, porque precisa da habitação para a filha. A angústia de se ver sem teto voltou a ensombrar os dias de Fernanda, que se sente "sozinha e sem a ajuda de ninguém, com vontade de desistir".
Inicialmente, a família era constituída por quatro pessoas: Fernanda, a filha, o marido e o enteado. A filha saiu de casa e juntou-se com o atual companheiro. Há nove meses, o marido faleceu subitamente, enquanto recuperava de um aneurisma: "Perdi-o em oito dias".
Fernanda perfilhou o enteado Nuno Santos quando ele era criança. Aos nove anos, detetaram um tumor cerebral a Nuno, e, segundo Fernanda, davam-lhe menos de um ano de vida. Resistiu. No entanto, em 2018 sofreu um aneurisma que tem prejudicado cada vez mais as suas capacidades. "É como uma criança. Um discurso confuso e com bloqueios", explicou. Fernanda faz limpezas em vários locais para compor o rendimento familiar: "Valores fixos só tenho a pensão do marido e do Nuno".
"Não quero ir morar para debaixo da ponte", desabafa Fernanda, acrescentando que não quer dinheiro, mas uma casa com condições que possa pagar.
Habitação social
Quando foi despejada em 2020 e, dado o valor elevado das rendas, Fernanda candidatou-se a uma habitação social. Continua à espera de resposta positiva da empresa municipal Gaiurb.
O Município tem mais de mil famílias em lista de espera por uma casa e referiu, ao JN, que o agregado em causa "tem uma classificação de 64,1 pontos e saberá a sua posição na lista de inscrições de Abril de 2023".
A Câmara de Gaia informa que o agregado tem sido acompanhado pelos serviços sociais do município, e que, no passado dia 7, entregou o comprovativo de cessação de contrato de arrendamento. Apesar de ser o senhorio a pedir a saída do agregado, o Município refere que "só o tribunal pode decretar o despejo".
O Município está a reabilitar vários fogos do seu parque habitacional, esperando ter maior capacidade de resposta no próximo ano. Atualmente, há 3341 casas no concelho destinadas a habitação social, mas nenhuma está vazia. E existem 1091 famílias gaienses em lista de espera por uma habitação social.