Rui Sá, da CDU, colocou-se na posição dos moradores que tiveram de deixar o Aleixo, no Porto, e diz que se o vale voltar "a ter outra vez torres" será um "soco no estômago". O comunista falou esta quarta-feira sobre o tema, no âmbito de um encontro que também juntou os arquitetos Correia Fernandes e Alves Costa.
Corpo do artigo
A discussão pública, que teve lugar num espaço da União das Freguesias de Lordelo e Massarelos, foi organizada pelo grupo ecológico Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro (Ndmalo) e contou com o arquiteto Paulo Vieira, da Câmara do Porto, em representação do vereador do Urbanismo, Pedro Baganha.
Para o local, antes ocupado pelas famosas torres do Aleixo, entretanto demolidas, a autarquia tem em marcha uma Unidade Operativa de Planeamento e Gestão (Uogp), que compreende a construção até 500 fogos, integrados num parque verde até à marginal. O plano, que já foi apresentado pelo município, está na fase de discussão pública e assenta na edificação de torres ou blocos. Rui Sá disse que uma das torres terá 21 pisos. Manuel Correia Fernandes considerou que "ainda se está a tempo de pôr de lado as torres".
A sala da União de Freguesias era pequena, mas estava bem composta, e das declarações resultaram, sobretudo, críticas e dúvidas. Houve quem tivesse falado em "aberração visual e paisagística". Coube a Paulo Vieira, diretor municipal do gabinete de estudos e projetos urbanísticos, fazer a defesa daquilo a que a Câmara se propõe fazer.
"Este conceito da cidade é lamentável. É uma mancha violenta. São blocos isolados", afirmou Alexandre Alves Costa, acrescentando mais à frente haver uma "desordem" e "desumanização". Paulo Vieira destacou, então, o papel do parque verde, que fará a "ligação" e terá um "efeito aglutinador".
Preocupado com o modelo de construção que será escolhido para o vale, mas também com a marginal, que referiu estar "sem programa e descaraterizada", e mais parece uma "manta de retalhos", Rui Sá, da CDU, antecipou que será um "soco no estômago" para os moradores que foram "enxutados" do Aleixo, ao saberem que "no lugar das torres onde moravam serão construídas outras tantas torres". Para o comunista, o que se perspetiva parece uma troca de moradores, mais endinheirados, ainda que nos lotes destinados à autarquia esteja prevista habitação acessível.
Foi ainda referido, por Rui Sá e por Correia Fernandes, que a cidade tem uma "dívida" para com a antiga comunidade residente do Aleixo, pela forma como tiveram de deixar as suas casas. Mas Alves Costa sublinhou que é preciso ser realista: "Manter a [antiga] comunidade do Aleixo é impossível. Foi decapitada".
"Optaria por outras tipologias"
Manuel Correia Fernandes, que já foi vereador na Câmara do Porto com o pelouro do Urbanismo, comentou "não ser contra os prédios altos, nem contra os prédios baixos". Para o arquiteto, "qualquer coisa tem a ver com o contexto". Salientou a importância de haver um "cronograma", incluindo financeiro. E deu o exemplo da Avenida 25 de Abril, em Campanhã, "sem nada à volta", como um caso mal acabado.
Em relação ao que consta da Unidade Operativa para o Aleixo, e os prédios previstos, um dos quais com 21 pisos, opinou que "optaria por outras tipologias". Falou ainda da "habitação acessível", para observar que não se sabe se este modelo veio para ficar, após ter dito que para pôr de pé o empreendimento será precisa uma década. Uma vez que o processo ainda está numa fase embrionária, concluiu que "é legítimo e ainda se está a tempo de pôr de lado as torres".
Da parte do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro (Ndmalo) ficou a promessa de ser enviada uma exposição à Câmara do Porto com o que resultou do debate.