Último barco atracou no Terminal de Cruzeiros de Leixões, em Matosinhos, em março. Pandemia travou movimento, embora o edifício continue a acolher visitas e investigadores.
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O Terminal de Cruzeiros de Leixões, emblemático e premiado edifício de Matosinhos, não recebe um navio desde 8 de março. Está sem turistas há mais de meio ano. A pandemia, o travão a fundo no negócio e as normas da Direção-Geral da Saúde (DGS), que interditam o desembarque de passageiros e tripulantes não nacionais nos navios de cruzeiro, interromperam um ciclo prometedor.
Em Leixões, há uma escala programada para 24 de setembro, mas à condição, pois a DGS é que manda. Quem estava habituado a ver os paquetes parados em águas matosinhenses, enquanto os passageiros davam voltas pelo Douro, Guimarães, Gerês e outros destinos, durante a estadia média de oito horas, entre a saída e o regresso às embarcações, vai ter que esperar por melhores dias.
"Há que aguardar pela retoma. Para a APDL [Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo], centrada nos contentores e no terminal petrolífero, a área de negócio dos cruzeiros não tem grande expressão. Neste momento é deficitária", admite o administrador Joaquim Gonçalves, resignado aos efeitos do coronavírus, mas ciente do retorno que o terminal tem para o turismo e para a notoriedade da região.
Este ano, Leixões previa receber 150 mil passageiros e 148 navios. Até março apenas acolheu quatro cruzeiros. Inclusive, para 2021, foram canceladas mais 20 escalas. Algumas companhias só preveem a retoma em abril do próximo ano. Apesar da paragem, não significa isto que o terminal não esteja preparado para o regresso dos turistas. É certo que o posto de controlo aduaneiro está deserto, como conferiu o JN na visita guiada, porém a estrutura está pronta para ser reativada, assim que surja luz verde. Há uma listagem de normas sanitárias para cumprir e a APDL está precavida. É obrigatório o uso de máscara, há dispensadores de gel, foi intensificada a desinfeção de superfícies e equipamentos, com produtos de limpeza antiviral, e até há zonas para isolar pessoas detetadas como casos suspeitos ou confirmados de covid-19.
Laboratórios a Funcionar
Quem pensa que a obra arquitetónica se resume aos cruzeiros está enganado. É um espaço multifacetado. Tem o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR, da Universidade do Porto), recebe eventos e visitas. Na realidade, foi no período entre 13 de março e 1 de maio que a circulação de pessoas caiu a pique. Só o CIIMAR tem mais de 300 utilizadores, entre investigadores, professores e alunos de mestrado. Frequentam o edifício o ano inteiro e naquele período estiveram em teletrabalho. Entretanto voltaram aos laboratórios.
Em termos de eventos, as salas, que tinham capacidade para 400 convidados, passaram a ter um máximo de 200 em eventos sentados e 50 se for em pé. Há um agendado para amanhã. Foram cancelados 44 até dezembro. Alguns foram reagendados.
O número de visitas também sofreu um forte abalo. O limite dos grupos passou de 50 para 15 visitantes, com marcações durante a semana. Ao domingo, o terminal está aberto ao público. Só faltam mesmo os cruzeiros.
Atividades e projetos
Em Leixões, a atividade da APDL não se esgota nos contentores, cruzeiros e terminal petrolífero. Há mais projetos. Um deles, a oferta de um cheque de 100 mil euros ao Hospital Pedro Hispano, foi executado. Mais dois, entre outros, podem ser concretizados em 2021: novos parques de estacionamento e um passeio marítimo.
100 mil euros para o Pedro Hispano
A verba destinada à celebração do dia do Porto de Leixões, que calha no terceiro sábado de setembro, este ano dia 19, foi oferecida, por inteiro, ao Hospital Pedro Hispano, de Matosinhos, para ampliar o Serviço de Cuidados Intensivos. Foram 100 mil euros atribuídos à unidade hospitalar, em abril. O dinheiro também serviria para custear as comemorações dos dias do Porto de Viana e da Via Navegável do Douro. Mas este ano, devido à pandemia, as datas serão assinaladas não presencialmente, mas por intermédio das plataformas digitais. No caso do Porto de Leixões, a 19, o dia será pontuado com iniciativas nas redes sociais, já em preparação e para ver no Facebook e no Instagram. A abertura da infraestrutura portuária à população, no terceiro sábado de setembro, tem sido um êxito, com grande afluência. Os cálculos da APDL apontam para uma média de 25 mil entradas, em cada edição.
Parques novos em Leça e Matosinhos
Nas cidades, o estacionamento é um problema. Matosinhos não foge à regra. Para contribuir para a solução e passar a ter uma fonte extra de receitas, a APDL está a estudar a criação de dois novos parques de estacionamento no Porto de Leixões, tanto em Matosinhos, como em Leça da Palmeira. Por serem destinos à beira-mar que convidam ao passeio e recebem muitos forasteiros, atraídos pela vasta e afamada oferta gastronómica dos restaurantes, estacionar o carro pode ser uma dor de cabeça. Os novos parques em equação iriam aumentar a capacidade de parqueamento e ajudar à mobilidade em Matosinhos e em Leça da Palmeira. Além de auxiliar os setores da restauração e do turismo, os parques também serviriam os trabalhadores das várias empresas que prestam serviço no porto matosinhense. Sobre o assunto, a APDL promete dar pormenores quando entender oportuno.
Passeio marítimo
A fim de proporcionar uma maior interação entre a comunidade e o porto, a APDL tenciona abrir mais as suas portas aos visitantes. Nesse sentido, a criação de um passeio marítimo sob o pontão sul, a ligar a portaria ao edifício do Terminal de Cruzeiros, está em cima da mesa. Esse passeio marítimo seria pedonal e até ciclável. Claro que o projeto obriga a considerações, encimadas, desde logo, pela questão da segurança, pois as atividades já existentes não podem ser postas em causa por um maior fluxo de pessoas. Também motivos de ordem climatérica e do estado do mar ditam uma rigorosa análise. Em todo o caso, a APDL está inclinada a criar o corredor. Para a área de estacionamento do terminal, também ao ar livre, tem havido interesse em iniciativas ao estilo "drive-in", em que os convidados estão nos seus carros e assistem aos eventos que acontecem num palco montado para o efeito.