
Octavio Passos/Global Imagens
A população desespera com fumo, pó e cheiro a enxofre, mais de um ano depois dos incêndios, e teme problemas de saúde. Empresa diz que trabalhos demoram, pelo menos, mais quatro meses.
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A cada remexida das máquinas, na tentativa de parar um fogo que ninguém vê, há fumo, pó, crepitar e cheiro a enxofre que preenchem o ar. Parte dos efeitos já se sentia desde os incêndios de outubro do ano passado, mas a situação agravou-se quando começaram, há cerca de dois meses, os trabalhos para tentar extinguir o foco de combustão que ainda se mantém na escombreira no Alto da Póvoa, em Pedorido, Castelo de Paiva. A população desespera e está preocupada com futuros efeitos na saúde.
Manuel Ferreira mora a cerca de 200 metros. E o cenário é sempre igual. "Sempre que andam ali, há fumo, cinza e cheiro a enxofre que vem com o vento até às casas", lamenta o antigo funcionário das minas do Pejão. "Andam aqui há dois meses e só trataram uma pequena parte. Mesmo aí, continua a arder", explica, lembrando que quando começaram os trabalhos, "os engenheiros detetavam 60% a 70% de enxofre no ar".
"Preocupa-nos o cheiro, o pó e o mal que isso possa fazer à saúde. A minha mulher tem asma e tem-se agravado. Tememos que isto não acabe tão cedo", acrescenta Luís Costa. Se a combustão chegar ao filão de carvão que ainda ali existe, a situação pode piorar, refere o antigo mineiro. "Sabemos que não é estalar os dedos, mas é preciso resolver o problema. Nem sequer têm sido dadas informações à população sobre se há cuidados a ter", queixa-se. "Não sei o que deitam para lá mas há sempre muito fumo e pó e fico com os olhos vermelhos. Também fico com a garganta seca e à noite dá-me tosse", conta Maria do Céu, de 82 anos.
Mais abaixo, também Maria do Céu Moreira sente os efeitos. "Às vezes, o cheiro é muito intenso. E acontece ir apanhar a roupa e estar toda suja, cheia de fuligem preta, mas a saúde é o pior. O meu neto tem alergias e, às vezes, vê-se aflito", lastima.
Trabalhos para quatro meses
Em resposta às questões enviadas à Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), que está a conduzir os trabalhos para extinção dos focos de combustão, o Ministério do Ambiente lembra que já foram extintos dois focos, mas salienta que este apresenta "uma maior complexidade, pela volumetria e pela temperatura dos materiais em combustão, pela maior distância às origens de água, e pela limitação de área livre para a mobilização das escombreiras".
A previsão atual é para que os trabalhos, de mobilização parcial das escombreiras, para acesso aos materiais em combustão, e extinção e compactação provisória nas plataformas adjacentes às escombreiras, se prolonguem por mais quatro meses, diz o Ministério. Nessas operações, adiantam, já foram investidos cerca de 600 mil euros, desde fevereiro de 2018, estando em curso um novo procedimento de contratação pública de cerca de 900 mil euros.
A EDM está a monitorizar a qualidade do ar "em contínuo, designadamente, no que respeita ao dióxido de enxofre e às partículas", refere o Ministério, não comentando possíveis efeitos na saúde.
A saber
Dois focos extintos
Depois dos incêndios, havia quatro focos de combustão limitados a materiais das escombreiras. Dois foram extintos e um acabou por se autoextinguir, refere o Ministério do Ambiente.
Câmara acompanha
"Estamos a tentar resolver a questão no mais curto espaço de tempo possível. Em termos técnicos, não há outra solução", diz Gonçalo Rocha, presidente da Câmara, referindo que a autarquia tem acompanhado a situação.
Bloco faz visita
O BE tem agendada, para amanhã, uma visita ao local para ouvir a população.
