O desespero e o receio de terem perdido tudo com o fogo pairava este sábado sobre as pessoas, sobretudo mulheres idosas, temporariamente alojadas na Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel devido aos incêndios.
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"Parece-me que a minha casa ardeu", lamentava, entre lágrimas, Maria José da Palma, de 77 anos, moradora na Cova da Muda, acompanhada pela psicóloga da instituição.
A idosa, à semelhança da vizinha Maria Francisca, de 90 anos, foi na sexta-feira à tarde retirada de casa pelas autoridades, por precaução.
"Tinha cabras, cães, patos, galinhas, pintainhos e agora não tenho nada", murmurava, embora ainda sem certezas de a sua habitação ter sido consumida pelo fogo.
Nos últimos dois dias a instituição já recebeu cerca de 30 pessoas -- na quinta-feira chegou o maior grupo, de 18 -, mas a maioria já foi levada por familiares, apesar de o número não parar de crescer.
Desde a madrugada deste sábdo chegaram pelo menos mais cinco pessoas à instituição, referiu a psicóloga, sublinhando que as pessoas vêm em pânico, a chorar.
"Muita gente pode não ter perdido a casa mas perdeu a vida toda: animais, alfarrobeiras, cortiça, colmeias", exemplifica Anabela Conceição.
Nestes dias chegaram também à Santa Casa três idosos acamados, mas foram encaminhados para o hospital, por não haver condições para assisti-los na instituição.
No ginásio está tudo a postos para receber pessoas desalojadas pelo fogo, que ali podem pernoitar em colchões improvisados, tomar refeições e tratar da sua higiene.
A vontade da maioria das pessoas acolhidas pela Santa Casa da Misericórdia é voltar para casa, como é o caso de Maria de Sousa Pires, da zona de Almargens, que confessou que preferia estar em casa porque não tem medo do fogo.
"Eu tenho medo é de ladrões e que me tratem mal, mas ficava bem em casa, não tinha problema nenhum nisso", diz a idosa, de 77 anos, referindo que não tinha praticamente nada consigo, além da chave de casa.
Tal como esta idosa, cujos filhos vivem no estrangeiro, boa parte das pessoas que ali chegam têm os familiares longe e vivem sozinhas.
"É difícil manter as pessoas aqui", conclui a psicóloga da instituição, referindo que estão prontos para receber mais pessoas.
Cerca de cem pessoas das localidades de Javali, Cabeça do Velho, Parizes, Arimbo e Cova da Muda, com uma média de idades de 60 a 65 anos, tiveram de ser retiradas das suas casas durante a última noite.