A têxtil Bipol não reabriu depois das férias. Sem cessar os contratos de trabalho, deixou 40 funcionários sem acesso ao subsídio de desemprego.
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Não houve cessação dos vínculos laborais e, por isso, os 40 funcionários, na maioria mulheres, não podem recorrer ao fundo de desemprego. As trabalhadoras acusam a gerência de as ter colocado em “layoff” e de, à revelia, as ter mantido a trabalhar, entre 12 de novembro de 2022 e 12 de maio de 2023 e acreditam que a insolvência é uma forma de fugir às responsabilidades legais que a descoberta desta situação acarreta.
A empresa de confeção, situada na rua da Caldeiroa, no centro de Guimarães, comunicou aos funcionários, na última semana de férias, que a empresa não iria retomar a laboração, a 9 de setembro, como estava previsto.
“Começamos a desconfiar que algo não estava bem, quando ele [Pedro Castro, o sócio-gerente] nos mandava para casa à sexta-feira e pagava-nos o dia na mesma. Até aí a empresa nunca tinha sido mãos largas com horas, tínhamos de cumprir tudo”, refere Vera Coelho, empregada com 10 anos de casa.
As funcionárias acabaram por descobrir, junto da Segurança Social, que a empresa estava em “layoff” e que, naquela circunstância, só deviam trabalhar um número de horas equivalente a um dia de trabalho por semana, embora estivessem a trabalhar muito mais. “Este encerramento acontece porque o Autoridade para as Condições de Trabalho agora está em cima da situação e a empresa vai ter de devolver todo o dinheiro que recebeu indevidamente da Segurança Social”, aponta Fernanda Gonçalves, uma funcionária com 11 anos ao serviço da Bipol, que se despediu em fevereiro, queixando-se de maus-tratos.
Francisco Vieira, coordenador do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes afirmou perante as funcionárias, reunidas esta manhã em frente às instalações da fábrica, que “não tem sido possível contactar com as advogadas da empresa, mas vamos continuar a tentar”. O representante sindical não compreende a atitude da gerência da Bipol que “ao não terminar os vínculos laborais, impede estas pessoas de recorrerem ao fundo de desemprego”. “Vivo sozinha e o salário que ganhava aqui é a minha única fonte de rendimento, sem fundo de desemprego e sem poder procurar trabalho, porque continuo a ser funcionária da Bipol, não sei como vou fazer para pagar as minhas contas”, queixa-se Cristiana Gonçalves. Se a gerência da empresa não mudar de posição, estas pessoas terão de esperar que o administrador de insolvência que vier a ser nomeado pelo tribunal proceda à cessação dos contratos de trabalho para poderem inscrever-se no fundo de desemprego.
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“Nesta região, estamos habituados a que encerrem muitas empresas e que, ao mesmo tempo, nasçam muitas outras. Fecha a ‘Francisco A’ e abre a ‘Francisco B’, no mesmo local, com as mesmas máquinas, a trabalhar para os mesmos clientes, com os mesmos funcionários, menos dois ou três, para poupar nos custos”, refere Francisco Vieira. “Não digo que é isso que vai acontecer aqui, mas não nos podemos esquecer que neste local já funcionou a Lauda Confeções”, acrescentou.
Apesar das diversas tentativas de contacto feitas pelo JN, não foi possível falar com a gerência da empresa que, até hoje, ainda não se apresentou formalmente à insolvência. Nas instalações da empresa, esta manhã, esteve um filho do sócio-gerente, Filipe Castro, que não quis prestar declarações dizendo tratar-se de um empregado como os outros. “Também ainda não recebi”.