Trabalhadores do Hospital de Braga contestam subida do custo do estacionamento e falta de transportes.
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A acalmia que se regista na mudança de turno das 22 horas, o momento em que Fernanda Soares deixa o serviço e Maria de Lurdes Caridade está prestes a começar, contrasta com a azáfama que todas as manhãs toma conta do estacionamento junto à entrada do Hospital de Braga próxima da Universidade do Minho. Em função dos aumentos das avenças cobradas nos parques internos, aquela zona é cada vez mais procurada por quem trabalha no hospital, até tendo em conta a falta de oferta de transportes públicos para lá das 22 horas.
Quando lhes toca fazer o turno da manhã ou da tarde, as duas técnicas auxiliares de saúde do serviço de cirurgia geral sabem que há uma rotina a cumprir. “É preciso sair mais cedo de casa, dar várias voltas ao estacionamento e esperar por um lugar”, resume ao JN Fernanda Soares. A situação agravou-se em janeiro, quando as avenças de estacionamento subiram dois euros.
“Eu já não estacionava nos parques do hospital devido aos preços, agora muito pior. Sou obrigada a vir trabalhar mais cedo, mas não posso gastar mais dinheiro”, acrescenta a trabalhadora, que garante que, de manhã e à tarde, chega “uma hora antes” para estar no serviço a tempo. “Muitas vezes fico em segunda fila à espera que alguém saia”, diz.
Essa é também uma experiência que Maria de Lurdes Caridade garante conhecer bem. “Quando estou a fazer manhãs, tenho de chegar no máximo às sete horas para pegar às oito. De tarde também é complicado, há muitas visitas. O único horário em que é fácil estacionar é quando entramos às 22 horas”, assegura.
Preço é um exagero
As duas técnicas auxiliares recusam-se a pagar 420 ou 600 euros por ano para poder estacionar nos parques interiores do Hospital de Braga. “Com os preços que estão em vigor, de 35 euros por mês para os parques descobertos e 50 para os cobertos, no final de um ano estamos a falar de 420 ou 600 euros. Para quem tem salários como os nossos, é muito dinheiro”, lamenta Fernanda, numa posição corroborada pela colega, para quem o preço praticado “é um exagero”.
Face à falta de oferta de transportes públicos, ambas as trabalhadoras asseguram que são “obrigadas” a deslocar-se de carro para o hospital. “É a única solução”, diz Fernanda Soares, que mora na Vila de Prado, em Vila Verde, do outro lado do rio Cávado. Para que assim não fosse “era preciso haver uma boa rede de transportes” a fazer a ligação entre os dois concelhos, com “muitos horários”, assegura.
Já Maria de Lurdes Caridade, que é de Celeirós, na outra ponta de Braga, defende que a rede atual dos Transportes Urbanos de Braga (TUB) “não se ajusta” às suas necessidades e lamenta que o serviço junto ao hospital termine às 22 horas. “Se quisesse vir de autocarro, a acabar o turno à meia-noite, como fazia para regressar a casa?”, questiona.
Ao JN, a vereadora da Mobilidade da Câmara de Braga e presidente do Conselho de Administração dos TUB, Olga Pereira, disse que há possibilidade de fazer “ajustes” à oferta existente desde que a procura o justifique. Segundo a autarca, essa eventual necessidade vai ser avaliada através de um inquérito aos profissionais do hospital.
Relativamente à abertura do torniquete, a ULS de Braga explicou ao JN que a decisão pretende “facilitar o acesso aos profissionais, utentes e estudantes da universidade” ao hospital e será para manter.
Torniquete aberto “piorou” o problema
Fernanda Soares e Lurdes Caridade defendem que a dificuldade em encontrar estacionamento na zona, mas fora dos parques do Hospital de Braga, piorou com a decisão de uma antiga administração de abrir o torniquete que dá acesso à unidade de saúde a partir da zona junto à universidade. “Antes só entrava quem tivesse cartão do hospital, mas há cerca de dois anos passou a estar sempre aberto e isso aumentou a confusão”, considera Fernanda Soares.
Petição
Uma petição lançada em dezembro, após serem conhecidas as novas tabelas de preços, reuniu 1471 assinaturas de médicos e outros profissionais.
Empresa justifica
A empresa que gere o estacionamento (Saba) diz “compreender as preocupações”, mas que o aumento é “inferior ao valor que se obteria caso se tivesse aplicado a taxa de inflação” desde 2011.