Em Alfena, Valongo, houve quem passasse a noite a fazer tapetes de flores. Uma arte movida pela fé, uma vez que por ali passou, na manhã deste domingo, a procissão de Nossa Senhora do Amparo.
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Numa altura em que as romarias e as festas populares tomam conta do cartaz cultural das cidades, freguesias e lugares, há um evento especial em Alfena, cidade do concelho de Valongo. É por lá que, todos os anos, no último domingo de julho, um tapete de flores cobre o chão numa extensão de cerca de três quilómetros, para homenagear Nossa Senhora do Amparo.
Esta é uma tradição que se perpetua há várias gerações e que permite um cruzamento entre os mais jovens e os mais velhos que, além da preparação realizada nas semanas anteriores, passam toda a madrugada anterior a ultimar os preparativos.
Se ontem à noite os alfenenses se deitaram após ouvirem os concertos com as ruas cobertas de alcatrão, esta manhã acordaram com um piso diferente, no caminho entre a Igreja Matriz de Alfena e a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Pétalas, sal e serrim colorido formaram figuras geométricas e religiosas, substituindo o habitual cinzento e definindo o percurso da procissão, o ponto alto das festividades.
Flávio Rocha, de 32 anos, é médico-dentista em França, mas faz questão de tirar férias nesta altura do ano, para poder participar na montagem do tapete e honrar a tradição. "É uma noite de responsabilidade, na qual toda a freguesia se une. É um importante momento de união entre gerações, com o pormenor engraçado de que os jovens são os que mais trabalham na noite anterior, enquanto os mais velhos são mais ativos na preparação durante o dia", contou, ao JN, salientando o grande momento de convívio promovido.
Cada lugar de Alfena é responsável por fazer a sua secção do tapete. Da extensão total de três quilómetros, cabe cerca de 250 metros a cada equipa, que escolhe o tema, normalmente relacionado com motivos religiosos. "A devoção move-nos!", acrescentou Flávio.
Maria José, comerciante de 56 anos, já é experiente nestas andanças e revelou que é uma noite diferente, especialmente em termos de cansaço. "Normalmente trabalhamos até à 4, 5 ou 6 da manhã e depois só temos tempo de ir a casa tomar um banho, arranjar-nos e às 9 já estamos prontos para a missa. É muito cansativo, mas durante a hora de almoço Alfena dorme e as pessoas só voltam ao ativo por volta das 16.30", explicou.
A forma como a cidade se une em torno das festas de Nossa Senhora do Amparo é motivo de orgulho para o presidente da Junta de Freguesia de Alfena, Luís Miguel Caetano, considerando que toda a gente sai a ganhar.
"Nós tratamos da parte burocrática e de ajudar a que as pessoas tenham o que necessitam para o tapete. É um momento muito importante para nós, porque os mais jovens juntam-se aos mais velhos e têm uma oportunidade de aproveitar a sua sabedoria, conquistada com a experiência da vida", explicou, antes de deixar um agradecimento a todos os que permitiram que a edição deste ano fosse, novamente, um sucesso.