O projeto "Cais Recicla", dinamizado pela Associação Cais, no Porto, conquistou o primeiro lugar do prémio Agir, através do qual a REN - Redes Energéticas Nacionais distingue entidades pelo seu trabalho na área social.
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O galardão anual, que vai na 11.ª edição, distinguiu desta vez o apoio a pessoas em situação de sem abrigo. Os prémios foram entregues nesta quinta-feira numa cerimónia na Fundação de Serralves, no Porto. A Associação Crescer com o projeto "É um Catering", em Lisboa, arrecadou o segundo lugar; e a delegação de Braga da Cruz Vermelha com o projeto "Closet4all" foi distinguido com o terceiro prémio.
O projeto vencedor, "Cais Recicla", pretende dotar as pessoas sem abrigo "de competências pessoais e sociais, como pontualidade, assiduidade e relação interpares com colegas e com chefias", para que, "quando integradas no mercado de trabalho, percebam as exigências de um trabalho das nove às cinco horas, e consigam manter-se nesse emprego", explicou ao JN Alexandre Teixeira, responsável pelo projeto e coordenador da Cais Porto.
Além de criarem produtos através de reciclagem de resíduos (cadernos, bolsas, porta-lápis, porta-cartões ou lápis), que futuramente poderão tornar a vertente comercial deste projeto autossustentável e chegar a mais pessoas, a CAIS desenvolve, simultaneamente, estratégias para que os utentes possam "lidar melhor com as emoções e perceber de onde vêm, muitas vezes, as frustrações em determinada situação".
O projeto, que já existe desde 2011, não apoia apenas pessoas sem abrigo, mas também as empresas que as integram. "Depois de estarem integrados, fazemos sempre um 'follow-up' de um ano, quer para a pessoa que entra na empresa, quer para a própria entidade patronal", explica Alexandre Teixeira.
Por norma, o grupo é constituído por 30 pessoas por ano, de forma a que consigam "construir uma relação de confiança e dar-lhes o tempo que necessitam, algo que se perderia se o grupo fosse maior", conta o responsável.
Quanto ao primeiro lugar do prémio da REN, Alexandre Teixeira revela que, "embora não estivesse à espera", emocionou-se por duas razões em concreto. Primeiro, porque graças ao município do Porto conseguiram um novo espaço para a Cais, depois de terem ficado sem o local que conheciam há 20 anos. Depois, pelo "reconhecimento que nos permite fazer aquilo que mais queremos, que é trabalhar com as pessoas". "Esta é uma população que ainda sofre muito preconceito e há quem pense que as pessoas sem abrigo são as principais responsáveis pela situação em que se encontram, o que não é verdade", observou Alexandre Teixeira.
Segundo e terceiro
Na segunda posição ficou o projeto "É um Catering", da Associação Crescer, que visa a integração no mercado de trabalho de cerca de 30 pessoas que tenham estado em situação de sem abrigo, jovens ex-reclusos, refugiados e migrantes, através de um serviço de catering com um menu apelativo criado por um chef.
O projeto "Closet4all" da delegação de Braga da Cruz Vermelha, que ficou no terceiro lugar, prevê a aquisição e montagem de armários e cacifos para permitir às pessoas em situação de sem abrigo guardar, num espaço seguro e acessível 24 horas por dia os seus pertences e documentação.
A próxima edição do Agir será dedicada ao apoio a cuidadores informais.