Em Penamacor, onde mora a maior fogueira de Natal, a Proteção Civil decide esta segunda-feira se retira lenha ou pede à GNR para evitar ajuntamentos numa vila de alto risco.
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A Comissão Municipal de Proteção Civil de Penamacor vai reunir hoje para tomar medidas que impeçam que o madeiro de Natal, o maior do país como é publicitado, seja aceso na noite de 23 para 24 deste mês, como é tradição na vila. Apesar de ser um cartaz turístico da vila, o amontoado de troncos colocados no largo da Igreja Matriz tem motivado a apreensão da população, que receia que uma multidão propague a pandemia num município de alto risco.
O madeiro foi colocado por seis populares há duas semanas, mas as pessoas envolvidas, que pedem anonimato, limitaram-se a dizer ao JN que "só" quiseram que o largo da Igreja não deixasse de ter a lenha".
Penamacor regista mais de 100 casos positivos de covid, e por isso está na lista dos concelhos de risco "extremamente elevado". A Câmara quer evitar qualquer tentativa de aglomeração de pessoas. "Apesar das recomendações, o madeiro está feito, tal como na aldeia do Vale da Senhora da Póvoa, e outras aldeias estão a pensar fazê-lo. Vamos avaliar segunda-feira (hoje) a segunda parte da tradição, o fogo", adianta António Beites. O autarca admite a proibição e, para isso, ou os troncos são retirados ou serão vigiados pela GNR.
Para evitar concentrações, a autarquia criou um programa de eventos natalícios on-line, entre os quais consta a exibição do madeiro a arder, com filmagens de anos anteriores.
A tradição orgulha os locais mas a pandemia reduz o entusiasmo, nomeadamente entre os idosos. "Estamos com muitos casos de covid e com o madeiro aceso, as pessoas menos atenciosas não ficariam em casa", prevê José Nunes.
Cem infetados em 5000
Os troncos vieram do monte no dia 8 em três tratores e foram depositados no centro da vila, ao som de um acordeonista local e cantares natalícios. "Todos estavam de máscaras", garante José Nunes, que assistiu à chegada da lenha, que num ano normal ficaria a arder até ao Ano Novo.
"Então o concelho está num risco extremamente elevado por ter 100 infetados em 5000 cidadãos e ainda estão a pensar criar um chamariz para as pessoas se juntarem?", questiona Luís Pereira. "Mas que responsabilidade é esta? Temos de fazer sacrifícios, o madeiro volta para o ano!", atira o septuagenário.
Num ano normal seria uma das festas de 2020
O grande monte de madeira, depositado no adro da igreja, é ateado ao cair da noite do dia 24, à exceção de Penamacor, que arde de 23 para 24, e mantém-se aceso durante vários dias. É considerado o maior do país. Depois da ceia de Natal, a população reúne-se em redor da fogueira, num ritual fraterno. A chegada do madeiro, no dia 8, é assistida por imenso público para saudar o cortejo de tratores e reboques, em número que procura sempre bater o antecedente, onde os jovens - antes, só os rapazes e agora também as raparigas que completem 20 anos - empoleirados nos troncos, atiram à "rebatina" os frutos do ramo de laranjeira que a praxe manda trazer, cantando acompanhados à concertina. A crescer de ano para ano, o "Penamacor Vila Madeiro" é sempre concorrido e é também uma ocasião em que muitos "filhos da terra" regressam para visitar os familiares e para participarem nas atividades.
Ponto de encontro
O madeiro de Natal está ligado à noite mais familiar do ano. É aceso depois da Missa do Galo na maior parte das localidades. Serve de ponto de encontro para reunir amigos, familiares e vizinhos.
Câmaras cancelaram
Nas vilas onde são as câmaras as responsáveis por formar o madeiro, este ano decidiram não o fazer para evitar aglomerações. É o caso de Castelo Branco, cidade que na noite de Natal tem três madeiros. Também a Guarda decidiu cancelar este ano a realização da iniciativa.