Transportes públicos ligam dez municípios da Comunidade Intermunicipal de Leiria em 2024
Serviço será realizado pela Rodoviária do Lis e deverá transportar 2,3 milhões de passageiros.
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Os dez municípios que integram a Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Leiria vão estar interligados através de um serviço de transportes públicos comum, a partir de janeiro de 2024, anunciou esta sexta-feira Paulo Batista dos Santos, primeiro secretário executivo, durante a apresentação do Sistema de Mobilidade da Região de Leiria. O valor das tarifas será reduzido.
Assegurado pela Rodoviária do Lis, o novo serviço interurbano será constituído por 115 autocarros, que deverão transportar 2,3 milhões de passageiros por ano, ao longo de 3,2 milhões de quilómetros. Os eixos Leiria/Marinha Grande e Leiria/Pombal serão reforçados para 210 linhas, para servir melhor os utilizadores de transportes públicos destas cidades, que concentram mais serviços e indústrias.
À margem da apresentação, Paulo Batista dos Santos revelou ao JN que o investimento de 1,2 milhões de euros dos municípios na modernização do serviço, melhoria da eficiência ambiental do transporte público e redução tarifária, será dividido entre todos de igual forma. Até porque, até então, a compensação paga pelo défice de utilização das linhas no norte do distrito, no valor de 400 mil euros por ano, também é suportada pelos dez concelhos.
Enquanto os sistemas de transportes urbanos de Leiria, Marinha Grande, Pombal, Batalha e Porto de Mós são "sustentáveis", os habitantes de Alvaiázere, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera têm de usar táxis com a mesma tarifa dos autocarros, para se poderem deslocar. "A partir de janeiro, esse serviço passará a ser assegurado apenas pela Rodoviária do Lis", garantiu o representante da CIM da Região de Leiria.
"Há pessoas de Ansião que trabalham em Leiria e que têm de apanhar um autocarro para Pombal, depois outro para Leiria e, por fim, o Mobilis [transporte urbano]", exemplificou Batista dos Santos. "Apanhar três transportes não é convidativo, muito menos quando não há conciliação de horários", afirmou. "Quando houver a mesma concessão, conseguimos transportar as pessoas até ao hospital de Leiria, por exemplo, sem mudarem de autocarro."
A rentabilização dos transportes coletivos é outra preocupação para a CIM da Região de Leiria, para evitar que os autocarros fiquem parados o dia todo, depois de transportarem os alunos para as escolas e as pessoas que entram no trabalho às 8 ou às 9 horas, e os irem buscar ao final da tarde. "Se já contratámos um autocarro e um motorista temos a possibilidade de, nas horas vazias, fazer circuitos para servir os cidadãos seniores ou as pessoas que precisam de ir ao mercado ou ao centro de saúde."
Região de Leiria é a pior do país
Durante a apresentação, foi referido que a região de Leiria é a pior do país em termos de mobilidade coletiva, pois mais de 80% recorrem à viatura própria para se deslocar entre casa e o trabalho, de acordo com os Censos de 2021. "É fundamental que o Governo considere a região de Leiria como território crítico para a densificação do transporte coletivo de
passageiros e reforce os apoios no âmbito do programa PROTransP", apelou Batista dos Santos ao secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, presente na cerimónia.
"No passado, estes avisos foram mais orientados para Lisboa e para o Porto", lamentou o primeiro secretário executivo. A este propósito, o vice-presidente da CIM da Região de Leiria, Pedro Pimpão, lembrou que a região obteve uma comparticipação de apenas 2,6 milhões de euros, enquanto Lisboa recebeu 142 milhões de euros. "Temos de olhar para estas diferenças territoriais", aconselhou.
Pedro Pimpão invocou a lei que visa combater as desigualdades no país e defendeu um "reforço da verba para fazer face a estas disparidades", tendo em conta também que o Governo quer aumentar a utilização do transporte coletivo. "Precisávamos de, pelos menos, cinco a seis milhões, para os próximos dois anos, para o sistema de bilhética, informação, campanhas de sensibilização e carros novos descarbonizados (elétricos ou a hidrogénio)", adiantou Batista dos Santos à margem da cerimónia.
Promessa de apoio adicional
Em resposta a Pedro Pimpão, o secretário de Estado adiantou que o Programa de Apoio à Redução Tarifária está a ser revisto e assumiu que foi feita uma distribuição das verbas "um pouco desigual", ao serem concentradas onde havia mais oferta de transportes públicos. "Temos de ter o cuidado de permitir que nos territórios em que a utilização dos transportes públicos é muito baixa possa haver um apoio adicional."
"Adormecemos durante muitos anos e acordámos nas últimas décadas e percebemos que temos um desenvolvimento muito desequilibrado", referiu Jorge Delgado. Destacou ainda o efeito negativo dos transportes públicos para o ambiente, devido ao tempo perdido no tráfego e à utilização de combustíveis fósseis. "Não é uma sociedade digna aquela em que vivemos hoje. As pessoas passam muito tempo sozinhas aprisionadas no seu automóvel, o que é mais ou menos a imagem de uma cadeia."
A CIM da Região de Leiria apresentou uma candidatura PRR para o apoio à produção de hidrogénio e outros gases renováveis, e de um posto de abastecimento, e pretende descarbonizar os transportes, através da adoção de autocarros sem emissões (elétricos ou a hidrogénio) e a substituição de combustível fósseis no setor dos transportes. Prevista está ainda a construção de abrigos modernos para os passageiros, com a indicação do tempo de espera dos autocarros.